Resenha - Príncipe da Noite


"Se eu fumasse, agora seria um bom momento para parar e fumar um cigarro. Fico parado num olhar contemplativo, tudo parece estar mais lento. Não entendo mais as palavras que estou escrevendo. Elas transcendem o simples gosto pelas mulheres e atingem um ato falho e trágico. Recordo-me da frase de Nietzsche: "E se a verdade fosse uma mulher?". Vejo que o que eu escrevo a partir de uma sensação de prazer diante das mulheres me leva para caminhos que precisam ser revelados por mim, como uma missão, não religiosa, mas uma missão de vida. Ou, como diria Nietzsche, a descoberta de uma verdade. Absorto, retorno ao papel e continuo a escrever."

Eita, Carol!!!
Foi exatamente isso que falei quado acabei de ler esse livro.
É um assunto delicado e eu, como psicanalista me vejo numa sinuca de bico.
O livro "Príncipe da Noite", de Germano Pereira, Selo Novas Páginas/Editora Novo Conceito, conta a história do psicanalista Gabriel, que desenvolve duas personalidades completamente diferentes.
De um lado, o psicanalista, que tem uma vida comum, com os problemas profissionais e amorosos do dia a dia. De outro lado, o Príncipe da Noite, um homem selvagem e livre, com uma vida que muitos sonham conquistar. Liberal, conquistador e egocêntrico, ele faz de tudo para levar a "próxima vítima" para a cama.
Mas o Príncipe da Noite não é somente um "homem do mundo" e o psicanalista Gabriel sabe muito bem disso... O comportamento obsessivo de colecionar os sapatos das mulheres com quem se relacionou e as manchas de sangue no quarto denunciam que a situação é muito mais complexa do que se poderia imaginar. Cabe a Gabriel, a mente lúcida entre os dois, cuidar para que uma imensa tragédia seja evitada.
A história como um todo, visto de um ponto de vista geral, é boa. Porém houve vários momentos que achei que o autor estava girando em torno do óbvio. Por diversas vezes o enredo ficou cansativo demais e previsível; arrastando a história. Nesses momentos precisei de uma pausa razoável para descanso. Com um assunto dessa dimensão nas mãos (dupla personalidade) dava para ser mais dinâmico e eficaz.
Do ponto de vista da leitora achei que a história foi boa, mas esperava mais, muito mais!!!Em vários momentos me arrastei para acabar o capítulo.
Do ponto de vista profissional, as coisa diferem um pouco. Não sou especialista em personalidades duplas, também conhecida como Transtorno Dissociativo de Personalidade ou Transtorno de Múltiplas Personalidades. O tema é bem interessante, mas muitos especialistas diferem quanto esse transtorno. Sei que existiram uns poucos casos (76 casos em 1944). A dissociação é reconhecida como uma reação sintomática em resposta a um trauma, estresse emocional extremo. Geralmente são considerados como uma sub-sintomatologia dinâmica, sendo mais frequente tidos como diagnóstico auxiliar, ao invés de primário.
Mas mesmo assim não deixa de ser um tema apaixonante para aqueles que amam assuntos que incorporam além do corpo, a mente. Acho só que faltou um pouco mais de dinamismo para que a história criasse vida própria.

Um abraço.
Cláudia Trigo

2 comentários

  1. Já vi mesmo algumas pessoas comentando que este livro é meio fraquinho...Gosto de tirar minhas próprias conclusões, mas acho que este não me chama mesmo a atenção...

    Beijo, Vanessa - Balaio de Livros
    http://balaiodelivros.blogspot.com.br/

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  2. Oi, Vanessa.
    Também sou como você, e gosto de tirar as minhas próprias conclusões. Já tinha ouvido muitas pessoas falando que era uma história fraca, mas fui lá para conferir. E não gostei. Mas é muito de gosto, e sempre falo que todos merecem uma chance, já que o que não gosto, pode agradar outros...
    Beijos.

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