Resenha: Hibisco Roxo - #MulheresEmFoco

Título: Hibisco Roxo
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 328
Ano: 2011
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Protagonista e narradora de Hibisco Roxo, a adolescente Kambili mostra como a religiosidade extremamente "branca" e católica de seu pai, Eugene, famoso industrial nigeriano, inferniza e destrói lentamente a vida de toda a família. O pavor de Eugene às tradições primitivas do povo nigeriano é tamanho que ele chega a rejeitar o pai, contador de histórias encantador, e a irmã, professora universitária esclarecida, temendo o inferno. Mas, apesar de sua clara violência e opressão, Eugene é benfeitor dos pobres e, estranhamente, apoia o jornal mais progressista do país. Durante uma temporada na casa de sua tia, Kambili acaba se apaixonando por um padre que é obrigado a deixar a Nigéria, por falta de segurança e de perspectiva de futuro. Enquanto narra as aventuras e desventuras de Kambili e de sua família, o romance também apresenta um retrato contundente e original da Nigéria atual, mostrando os remanescentes invasivos da colonização tanto no próprio país, como, certamente, também no resto do continente.

- Sabe por que Eugene não se dava bem com Ifediora? - disse tia Ifeoma, num sussurro ainda mais furioso e mais alto. - Por que Ifediora disse na cara dele o que achava. Ifediora não tinha medo de falar a verdade. Mas você sabe que Eugene briga com as verdades das quais ele não gosta. Nosso pai está morrendo, ouviu bem? Morrendo. Ele e um homem velho, quanto tempo ainda tem de vida, gbo? Mas Eugene não o deixa entrar nesta casa, se recusa até a falar com ele. O joka! Eugene tem de parar de fazer o trabalho de Deus. Deus é grande o suficiente para fazer seu próprio trabalho. Se Deus for julgar nosso pai por escolher o caminho de nossos ancestrais, então Ele que faça o julgamento, não Eugene." 

Eu já tinha lido os discursos da Chimamanda, Sejamos Todos Feministas e Para Educar Crianças Feministas, e tinha amado ambos, mas principalmente o primeiro. No entanto, tinha receio de ler os romances dela, pois achava que poderiam ser muito difíceis. Felizmente isso não aconteceu.
Li o livro muito rápido. A escrita da Chimamanda e maravilhosa e a trama consegue prender a gente durante todas as 300 páginas. O começo é um  pouco devagar, mas porque precisamos nos acostumar com os nomes do personagens, que são bem diferentes para a gente e conhecermos melhor a cultura da Nigéria.
Kambili é uma adolescente rica, filha de pai famoso por ser dono de uma grande indústria de alimentos. Apesar da Nigéria ser um país com uma religião muito forte, ela sofreu demais com a colonização católica e vemos isso muito bem na representação de Eugene (pai de Kambili) e de seu avô.
Enquanto seu pai estudou boa parte da infância em uma escola católica e por causa disso, considera o catolicismo como a única religião aceitável; seu avô faz preces aos ancestrais nigerianos e é considerado por seu filho como um adorador de ídolos, algo horrível, considerado um pecado.
No entanto, ao mesmo tempo que Eugene tem todo esse preconceito, ele é um apoiador do jornal mais progressista do país, que está sofrendo por um golpe. Em diversos momentos, ele irá defender a democracia e inclusive terá que mudar a sede do jornal para os jornalistas não serem pegos e torturados.
Apesar de Kambili ser a protagonista e também a narradora, por causa de opressão do pai, ele não é a dona da sua própria história. Em vários momentos, os protagonistas são o pai dela e a tia, Ifeoma, uma professora de história na faculdade local. E isso, para mim, é uma excelente representação de uma sociedade que perde a sua cultura, a sua imagem, a sua força por causa da colonização.
Enquanto em casa, Kambili tem a figura do pai como "exemplo", no momento em que ela passa as férias na casa da tia, ela começa a ter como exemplo uma figura totalmente contrária ao do pai. Pobre, morando em um bairro muito simples, Ifeoma, é bem mais liberal com seus três filhos e defende as suas raízes, mantendo uma resistência.
O livro discutirá a questão  da religião, da politica, da educação e da opressão, seja do pai com o avô, ou do pai com a esposa. A mãe de Kambili não te permissão a opinião própria e ainda sofre demais com o marido. Lendo, vocês perceberão.
É um livro extremamente forte, triste e real. Acho necessário todo mundo ler. É a representação de um país ainda muito pobre economicamente, mas muito rico culturalmente, mas que perdeu muito disso com a colonização, que vamos ser sinceros, em sua grande maioria, só foi ruim aos países colonizados.
O título faz sentido e é a figura de esperança na vida de Kambili e seu irmão. A primeira vez que ele veem um hibisco roxo, que naturalmente não existe, é o resultado de uma experiência, que nem a orquídea azul, é na casa da tia e é a partir daquele momento que Kambili começará a ter novas visões e opiniões a respeito de diversos assuntos. O hibisco roxo voltará a aparecer, mas paro por aqui, para não estragar a experiência de vocês.
Amei muito esse livro e agora já quero ler outros livros da Chimamanda, mas principalmente Americanah! Recomendo demais e acredito que todos deveriam em algum momento ler.
Estou também querendo ler mais livros de autores negros, pois li muito pouco na minha vida e acredito que só evoluímos quando conhecemos as histórias e verdades que são diferentes das nossas. Essa resenha deveria ter saído em Março, mas acabei me enrolando um pouco. Mas nesse tempo, já li o livro do desafio desse mês, é foi outro livro incrível, escrito por uma autora negra e que trás uma outra história e uma outra verdade. Em breve sai!

Até a próxima e boa leitura!

7 comentários

  1. Oii, tudo bem?

    Eu achei a premissa do livro bem interessante. E acredito que irei gostar bastante do desenvolvimento da história, principalmente pelas abordagens sobre religião, politica, educação e opressão. Vou logo colocar na minha lista de desejados.
    Obrigada por compartilhar!!

    Beijinhos!!

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  2. Eu nunca li nada da autora, acredita? Mas saber mais sobre esse livro me faz querer mudar isso logo. Ainda mais sendo desses livros que todos precisam ler. Adorei sua resenha.
    beijos

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  3. Sim, este livro está na minha pilha de leituras para fazer. Você por acaso mudou o layout do seu blog ou é impressão minha? Será que estou maluca? Eu lembro de ter algo do Titanic, ou posso estar confundindo. Se estou me desculpe. hahahaha
    Eu fico imaginando como é a questão de viver a cultura que não se deveria sabe, sei que este livro mexe muito.

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    1. Oi, Greice!
      Mudamos o layout, mas o que você descreveu não foi o nosso, rsrs.
      Mas fico feliz que tenha reparado.
      Bjss

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  4. Oi! Chimamanda é maravilhosa! Seus textos, sua fala, enfim… tudo que ela faz emana uma energia que sentimos em nossa alma. Já li os outros livros dela e posso afirmar que ela só evolui.
    Esse livro me causou um misto de sentimentos, entre eles raiva, compaixão, revolta… Gostei bastante, apesar do final ter me decepcionado um pouco. Obrigada pela resenha!

    Bjoxx ~ Aline ~ www.stalker-literaria.com ♥

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  5. Olá!
    Morro de curiosidade com a escrita da autora. Vejo tantos elogios e já vinha sentindo interesse em saber mais sobre essa obra. Com certeza fiquei com a impressão de uma leitura que mexe com nossos sentimentos e nos coloca pra refletir sobre diferentes aspectos da vida e sobre esses personagens.
    Dica anotada!

    Camila de Moraes

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  6. Oiee ^^
    Eu também li "Sejamos todos feministas" e já quis ler outros livros da Chimamanda, mas isso infelizmente ainda não foi possível...hehe' Acho que, de todos eles, o que eu mais tenho curiosidade de ler é "Americanah", seguido por "Hibisco roxo", que parece ser muito bom e um grande baque para os leitores(fiquei muito feliz de ver que você gostou!)
    MilkMilks ♥

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