Resenha: Estação Onze - Um 'Rolê' Pelo Mundo

Título: Estação Onze
Autor(a): Emily St. John Mandel
Editora: Intrínseca
Páginas: 320
Ano: 2015
País: Canadá
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Certa noite, o famoso ator Arthur Leander tem um ataque cardíaco no palco, durante a apresentação de Rei Lear. Jeevan Chaudhary, um paparazzo com treinamento em primeiros socorros, está na plateia e vai em seu auxílio. A atriz mirim Kirsten Raymonde observa horrorizada a tentativa de ressuscitação cardiopulmonar enquanto as cortinas se fecham, mas o ator já está morto. Nessa mesma noite, enquanto Jeevan volta para casa, uma terrível gripe começa a se espalhar. Os hospitais estão lotados, e pela janela do apartamento em que se refugiou com o irmão, Jeevan vê os carros bloquearem a estrada, tiros serem disparados e a vida se desintegrar.
Quase vinte anos depois, Kirsten é uma atriz na Sinfonia Itinerante. Com a pequena trupe de artistas, ela viaja pelos assentamentos do mundo pós-calamidade, apresentando peças de Shakespeare e números musicais para as comunidades de sobreviventes.
Abarcando décadas, a narrativa vai e volta no tempo para descrever a vida antes e depois da pandemia. Enquanto Arthur se apaixona e desapaixona, enquanto Jeevan ouve os locutores dizerem boa-noite pela última vez e enquanto Kirsten é enredada por um suposto profeta, as reviravoltas do destino conectarão todos eles.

Nas tardes de silêncio no apartamento do irmão, Jeevan se pegava pensando em como a cidade é humana, como tudo é humano. Nós reclamamos de como o mundo moderno é impessoal, mas isso é mentira, era o que lhe parecia; nunca tinha sido impessoal, nem de longe. Sempre houve uma sutil e sólida infraestrutura de gente, todos trabalhando à nossa volta, sem serem notados, e, quando as pessoas param de trabalhar, todo o sistema emperra e para. Ninguém fornece gasolina aos postos de combustível ou aos aeroportos. Os carros ficam parados, abandonados. Os aviões não podem voar. Os caminhões continuam nos pontos de origem. Os alimentos nunca chegam às cidades; os mercados fecham. As lojas ficam trancadas e depois são saqueadas. Ninguém vai trabalhar nas usinas de energia nem nas subestações, ninguém remove as árvores caídas nas fiações de eletricidade. Jeevan estava de pé junto à janela quando as luzes apagaram."

Quando eu comprei esse livro e o escolhi para representar o Canadá no nosso desafio pelo mundo, eu não sabia muito bem o que esperar da história, já que não é um livro muito conhecido aqui e tinha visto só uma resenha, na qual a leitora gostou da leitura, mas apontava uma lentidão e uma narrativa diferente, na falta de uma palavra melhor. Portanto, comecei a leitura meio que nas escuras e acabei encontrando uma história única, totalmente diferente do que já tinha lido, inclusive no gênero.
No que é conhecido como Dia Um, a Gripe da Geórgia se espalhou pelo planeta Terra, com um índice de mortalidade de 99%.  Já no Dia Dois, praticamente toda a população já foi eliminada.
É desse modo que começa a história. Durante uma apresentação de Rei Lear, em Toronto, Arthur Leander sofre um ataque cardíaco e falece no meio do palco. No momento, Jeevan Chaudhary, um paparazzo em treinamento médico estava na platéia e tenta socorre-lo.
Enquanto está voltando para casa, ele recebe a notícia de um amigo médico que uma terrível e mortal gripe está se espalhando pelo mundo:
- Desde hoje de manhã, já recebemos duzentos pacientes de gripe - disse Hua. - Cento e sessenta nas últimas três horas. Quinze morreram. O setor de emergência está lotado de casos novos. Pusemos leitos nos corredores. O Ministério da Saúde vai fazer uma declaração oficial. - Não era só exaustão, Jeevan se deu conta. Hua estava com medo."

Depois, há um pulo temporal e já se passaram 20 anos. Com isso, a história se divide então, entre o antes da epidemia e o depois, onde poucas pessoas sobreviveram. Entre esse passar de tempo, acompanhamos a história de seis personagens diferentes: Arthur Leander, Jeevan, Kirsten Raymonde - uma atriz mirim de oito anos que vê Arthur morrer na sua frente; 20 anos depois, ela participa de um grupo de atores e músicos que caminham pelos EUA em caravanas e se intitulam Sinfonia Itinerante. Em cada cidade que eles param, eles apresentam alguma peça de Shakespeare. Além dos três, têm Miranda - a primeira esposa de Arthur -; Clark, o melhor amigo do ator e o "profeta", um homem que não sabemos quem é e se autointitula assim. Ou seja, todos estão ligados à Sinfonia e todos estão ligados à Arthur Leander.
Quando eu digo que Estação Onze é uma história única, é por causa da escolha que a autora fez de nos apresentar a trama. O que estamos lendo é uma história pós-apocalíptica, mas o jeito que ela constrói é diferente de tudo o que já li, principalmente no gênero. É até difícil explicar, o melhor mesmo seria se todos lessem, mas o que quero dizer é que sentimos a solidão dos que sobreviveram. Quando pensamos em histórias desse estilo, sempre pensamos em guerras e lutas, mas o que menos tem no livro é isso. Se tem algo que está presente na história toda, é a solidão. Como muitos vão definhando por estarem sozinhos ou não terem nada para fazer (inclusive, acredito que foi tentando "combater" isso que a Sinfonia foi criada). Isso, algumas vezes, deixa a leitura um pouco devagar, mas faz parte da experiência. Não vão ler esperando ação, pois quase não há.
Uma leitura bem diferente e uma experiência interessante. Recomendo, principalmente agora, considerando a situação do planeta com o coronavírus. É curioso (e assustador) ver como uma doença pode se alastrar rápido, e infelizmente, a obra tem algumas semelhanças com o que estamos passando. Com certeza, um livro único!

Até a próxima e boa leitura! (E se cuidem, pois a situação é série e necessita de atenção. Não queremos chegar no ponto do livro).

5 comentários

  1. Achei interessante apresentação do livro, realmente, por tratar de uma coisa pós apocalíptica tem um enredo bem original.
    Te confesso que gostei da trama, mas no momento preferia deixar passar.

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  2. Oi Carol!
    Gosto muito de livros ficção futurista, acho muito inteligente a criação do enredo envolvendo o futuro, esse parece ser interessante, vou deixá-lo anotado aqui pois tenho alguns na frente para ler ainda. Parabéns pela resenha fiquei curiosa com a passagem do tempo e em como vai terminar a história, bjs!

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  3. Oi, Carol!
    Menina, preciso confessar que ao ler sua resenha fiquei pensando se vamos chegar num ponto parecido com o que é contado na trama (e bateu um medo bem real disso).
    Sempre acho muito legal quando a narrativa consegue se movimentar bem entre passado e futuro porque fico com a sensação de que é possível entender ainda mais o mundo criado, por isso fiquei bem curiosa para ler esse (mas talvez espere para ler depois que essa pandemia passar).
    Beijos e fique bem!

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  4. Olá

    Nunca me dei ao trabalho de ler a sinopse desse livro e se sempre o associava a um romance trágico por causa do título e nunca imaginaria que seria uma distopia?. Espero que o corona não seja esse vírus nunca, porque seríamos dizimados mais rápidos que no livro.

    Beijos

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  5. Oi Carol, tudo bem? Acho essa capa tão simples e tão bonita ao mesmo tempo! Apesar dessa história me parecer um pouco confusa, principalmente pra quem não tem o habito de ler esse genero, realmente me parece interessante. Adorei tua resenha.

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