Resenha: A Condessa Sangrenta - Um 'Rolê' Pelo Mundo

Título: A Condessa Sangrenta
Autor(a): Alejandra Pizarnik
Com Ilustração de: Santiago Caruso
Editora: Tordesilhas
Páginas: 60
Ano: 2011
País: Argentina
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Novela de terror inspirada na vida da condessa húngara Erzébet Báthory (1560-1614), condenada pelo assassinato de 650 jovens mulheres com requintes de crueldade.Vários dos tormentos aos quais as jovens foram submetidas são descritos no livro. Primeira obra da autora publicada no Brasil. Posfácio de João Silvério Trevisan (autor de Ana em Veneza e Devassos no Paraíso). Belíssimas ilustrações do argentino Santiago Caruso.


O nome Báthory - em cuja força Erzsébet acreditava como na de um extraordinário talismã - foi ilustre desde o princípio da Hungria. Não é casual que o escudo familiar ostentasse os dentes do lobo, pois os Báthory eram cruéis, temerários e luxuriosos. Os inúmeros casamentos entre parentes próximos colaboraram, talvez, para o aparecimento de doenças e inclinações hereditárias: epilepsia, gota, luxúria."

O livro a Condessa Sangrenta, de Alejandra Pizarnik, escrito em 1971, - um ano antes de sua morte, aos 36 anos - é um ensaio que fascinou a argentina durante anos.
A condessa húngara Erzébet Báthory, que viveu entre 1560 e 1614, foi uma personagem real e insólita: assassinou cerca de 650 moças. Há os que alegam falta de precisão histórica nos crimes a ela atribuídos. Suspeitam de exagero nos estudos do período vitoriano, quando se popularizou muito as histórias de vampiros. Mas mesmo assim, não tem como desconsiderar o mito que se tornou. Principalmente quando isso mexe com o imaginário das pessoas. Temos também nesse mundo que fascina e repudia, claros sinais de lesbianismo da condessa, já que seus alvos eram sempre adolescentes belas e virgens, e não rapazes.
É uma bela personagem para estudos psicanalíticos: temos tantos sintomas evidentes que Freud iria se realizar - narcisismo, perversidade, libido exacerbado, solidão, melancolia. A lista é longa.
Durante seis anos, a condessa assassinou impunemente. Reclusa em seu castelo de pedras cinzas - Castelo de Csejthe - com escassas janelas, torres quadradas, labirintos subterrâneos, localizado na colina de rochas, era assombrado por uma funesta solidão e muros que afogavam qualquer grito.
Seus métodos de tortura eram os mais terríveis possíveis: ia desde a "Virgem de Ferro", morte por água, gaiola mortal, até as torturas clássicas. Lembrando sempre: só belas adolescentes.
Erzsébet se casou em 1575, aos 15 anos de idade com Ferencz Nadasdy, um guerreiro de extraordinária coragem. Jovem, a condessa vivia diante de seu grande e sombrio espelho. Ali passava horas se olhando sem se cansar. Espelho esse que ela mesma havia desenhado.
Esses momentos de grande solidão já definia o que seria o mal do século XVI: a melancolia. Lembrando que na sua época uma melancolia significava uma pessoa possuída pelo demônio.
A maior obsessão da condessa sempre havia sido afastar a velhice a qualquer preço. Por isso, aderiu também a magia negra como garantia de sua perpétua beleza.
Em 1610, depois de inúmeros rumores a seu respeito, o rei Habsburgo encarregou o poderoso paladino Thurzo de ir até Csejthe e castigar a condessa. O correto seria para a época, decapita-la, mas Thurzo apenas declarou a prisão perpétua dentro do seu próprio castelo. Muraram as portas e as janelas de seu aposento. Em uma parede foi feito uma janelinha por onde podiam passar-lhe os alimentos.
Assim viveu mais de três anos, quase morta de frio e de fome. Nunca demonstrou arrependimento. Nunca compreendeu por que a condenaram. Em 21 de agosto de 1614, um cronista da época escrevia: "Morreu ao anoitecer, abandonada por todos".
Uma história para deixar indignação, mas se pararmos para pensar, o passado da humanidade é muito obscuro e hostil. Vivemos não muito distante, dias sombrios, onde extermínios em massa eram feitos em nome de uma raça "pura". Não há muita diferença entre Hitler e a condessa, só os números. Um queria limpar o planeta, a outra permanecer linda para sempre. Ambos diabólicos.
Um ensaio horripilante e questionador. Será que só existiu uma condessa sangrenta? Será mesmo? A modernidade nos trouxe a tecnologia, a informação, mas não curou o mal que o ser humano carrega no coração, alguns conseguem esconde-lo, censura-lo, controla-lo a vida toda. Outros não.
O livro é curto (59 páginas) e a história é pincelada pela autora. A ilustração de Santiago Caruso é sensacional. Sei que existe uma relato mais completo de Valentine Penrose, com prefácio de Paul Éluard, mas nunca encontrei para comprar. Então a minha base é o que encontrei no livro e na internet. Alejandra Pizarnik se inspirou no livro de Penrose.

O Que Acontecia na Época:

  • Em 1560, várias cópias manuscritas de José de Anchieta sobre gramática de língua Tupi circulavam entre os seus companheiros jesuítas;
  • Em 1575, chegam os franciscanos ao Rio da Prata, com intenção evangelizadoras;
  • Em 1582, o calendário gregoriano é introduzido pelo papa Gregório XIII ao eliminar dez dias do ano de 1582;
  • Em 1600, Giordano Bruno (filósofo italiano) é queimado na fogueira por heresia;
  • Em 1603, o rei James I da Escócia também vira rei da Inglaterra;
  • Em 1611, King James publicou a Bíblia, originalmente com 80 livros. Os livros Apócrifos foram originalmente retirados em 1885, restando apenas 66 livros;
  • Em 1613, John Rolfe casa com Pocahontas, a princesa índia.



Nenhum comentário