Resenha: As Boas Mulheres da China - Um Rolê Pelo Mundo

Título: As Boas Mulheres da China
Autor(a): Xinran
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 288
Ano: 2003
País: China
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Entre 1989 e 1997, a jornalista Xinran entrevistou mulheres de diferentes idades e condições sociais, a fim de compreender a condição feminina na China moderna. Seu programa de rádio, Palavras na brisa noturna, discutia questões sobre as quais poucos ousavam falar, como vida íntima, violência familiar, opressão e homossexualismo. De forma cautelosa e paciente, Xinran colheu inúmeros relatos de mulheres em que predomina a memória da humilhação e do abandono: estupros, casamentos forçados, desilusões amorosas, miséria e preconceito.

Desde a sociedade matriarcal no passado remoto, a posição da mulher na China sempre fora a de nível mais baixo. Ela era classificada como objeto, como parte da propriedade, dividida como a comida, as ferramentas e as armas. Mais tarde foi autorizada a ingressar no mundo do homem, mas só podia existir aos pés dele - dependendo inteiramente da bondade ou da crueldade de um homem. Quando se estuda arquitetura chinesa, vê-se que se passaram muitos anos até que uma pequena minoria de mulheres pudesse mudar dos quartos laterais na casa da família (onde se guardavam as ferramentas e os empregados dormiam) para quartos ao lado dos aposentos principais (onde moravam o dono da casa e seus filhos)."

Quando escolhi esse livro para representar a China, tinha dois motivos que gritavam mais para serem escutados: primeiro foi a minha mãe, que adora a escrita e os livros da Xinran; em seguida, foi o tema, que é muito a minha cara, e bem antes de ler, já sabia que eu iria gostar - só se um desastre acontecesse para mudar esse resultado. Felizmente, nada de anormal ocorreu e as expectativas foram supridas.
Xinran é uma importante jornalista da China, que entre 1989 e 1997, entrevistou dezenas de mulheres de diferentes idades e condições sociais para o seu programa noturno da rádio, intitulado Palavras na Brisa Noturna.
O seu objetivo era discutir questões como vida íntima, violência doméstica, opressão e homossexualismo, assuntos que eram proibidos numa China que estava começando a se abrir para o mundo depois de anos sob uma Revolução Comunista (1949-1983), segunda etapa da Revolução Chinesa (também chamada de Revolução Cultural), que teve seu começo em 1911.
Essa ideia surgiu após Xinran receber uma carta de um garoto que ouvia o seu programa. Nela, o rapaz relatava que na aldeia onde morava, havia um homem velho, de sessenta anos, que tinha acabado de comprar uma esposa. No entanto, a moça era muito mais jovem do que ele e com medo dela fugir, tinha a amarrado com correntes de ferro. Por causa disso, a cintura da garota estava em carne viva, com o sangue escorrendo pelas roupas. Essa mensagem despertou na jornalista uma necessidade de contar as reais situações que as mulheres chinesas vivenciavam todo dia, não importando a questão social ou financeira delas.
O livro é composto de 15 capítulo mais um prólogo e um epílogo. O primeiro capítulo é sobre como surgiu a ideia para as entrevistas, já que a Xinran já tinha um quadro que fechava a programação da rádio. Ela começou devagar, com alguns poucos minutos no final para poder falar sobre algumas histórias de mulheres desconhecidas, até começar a receber centenas de cartas e conseguir abrir um espaço para as mulheres poderem fazer perguntas ou contar as suas histórias ao "vivo" (o ao vivo está entre aspas, porque tudo ainda era bem controlado pelo Partido).
A Xinran ter dado esse local para dezenas de mulheres se abrirem e mostrarem para o país o que elas passavam, é magnífico! Ela tinha um emprego estável, que pagava uma boa quantia. Não precisava ser pôr em risco, já que ela podia ser presa ou coisa muito pior. Mas ela se utilizou do seu privilégio (que naquela situação, naquele momento, era mínimo) para dar voz a quem não tinha. Só isso já faz o livro ser importantíssimo e acredito que todos deveriam ler, para entendermos a situação de mulheres em outro país e vermos como é necessário lutar para que todos tenhamos os mesmos acessos, e não só a nossa bolha.
Existem algumas histórias extremamente pesadas e tristes, que me forçou em alguns momentos dar uma parada na leitura. Tenho as minhas favoritas, por inúmeros motivos. Para quem for ler saber quais foram: A Menina Que Tinha Uma Mosca Como Animal de Estimação, sobre uma adolescente que preferia permanecer doente no hospital para não ter que voltar para casa e ser abusada pelo pai; As Mães Que Sofreram Um Terremoto, sobre três mães que perderam os seus filhos em um terremoto em 1976, que matou 300 mil pessoas e deixou a cidade por 14 dias isolada, com corpos soterrados sem o resto do país saber; e a última foi também a última do livro, As Mulheres da Colina dos Gritos, sobre pessoas que moravam a oeste da cidade de Xi'an, praticamente no deserto.
No entanto, apesar de ter as minhas favoritas, todas as histórias são essenciais. E por causa delas, a Xinran não pode publicar o livro na China. Foi quando ela se mudou para Londres e publicou pela primeira vez, em 2002.
As Boas Mulheres da China é um livro que todos deveriam ler. Também fiquei com muita vontade de ler outras obras da autora, principalmente três obras em específico: As Filhas Sem Nome, Mensagem de Uma Mãe Chinesa Desconhecida e Testemunhas da China.

Até a próxima e boa leitura!

5 comentários

  1. Oiii!

    Eu gosto muito desse seu projeto.. Não conhecia o livro e achei interessantíssimo e corajosa a publicação. Fico imagino a dificuldade de ler alguns relatos.
    A resenha está ótima e espero que consiga ler mais da autora.

    Beijinhos,
    Ani
    www.entrechocolatesemusicas.com.br

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  2. Confesso que não conhecia esse livro e nem mesmo a autora. Lendo sua resenha, pude perceber que é aquele livro tocante e necessário, sabe? Fiquei curiosa para conhecer mais sobre essa história. Vou anotar sua dica.

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  3. Não conhecia o livro, mas fiquei super interessada.
    Nossa, mas a cultura oriental em si é muito misógina que eu só consigo mesmo ter pena das mulheres. Inclusive deve ser bem pesado esse capítulo que você destacou da adolescente que preferia ficar no hospital.
    Beijos
    Balaio de Babados

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  4. Fiquei interessadíssima pelo livro porque tenho buscado leituras que fujam dos mesmos países que sempre leio. Essa questão do livro ter sido proibido na China, aumentou ainda mais minha curiosidade pela obra.

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  5. Leitura diferente. Totalmente fora da minha zona de conforto, mas mesmo assim, depois de sua resenha, senti certa curiosidade.
    Gostei bastante de sua resenha.
    Sucesso em seu projeto.

    Beijinho!

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