Mrs. Dalloway - Não Rolou Química



"Nos olhos dos passantes, na sua pressa, no seu andar, na sua demora; no burburinho e vozearia; carros, altos, ônibus, caminhões, homens-sanduíches bamboleantes e tardos; charangas; realejos; na glória e no rumor e no estranho aerocanto de algum avião sobre a sua cabeça estava isto, que ela amava: a vida; Londres; aquele momento de junho".

Já sei que serei amaldiçoada com essa resenha pelo resto da minha vida, mas vamos lá...
"Mrs. Dalloway", de nossa querida e amada Virginia Woolf, Editora Folha de S. Paulo, foi na verdade, uma leitura chata. Já li outras coisas - bem melhores - da escritora.
Já li tanto sobre o livro, tanto amor, tanta veneração, que fui lotada de expectativas, e caí do penhasco que subi.
De verdade: achei um livro chato de ler! Um personagem egoísta, problemático, sem carisma nenhum. Diversas vezes, até difícil de entender a confusão de seus pensamentos.
O livro se passa num único dia de junho, como Ulisses, de James Joyce, e a narrativa é arrastada na maior parte do tempo, por mais que ali se exponha personagens complexos, depressivos, a histeria de Mrs. Dalloway é chata demais, arrastada demais, arrogante demais. Tudo nela é demais. A única coisa de menos é sua simpatia.
Assim como a maioria das obras de Virginia, Mrs. Dalloway também foi inspirado na vida de alguns amigos.
A personagem de Clarissa Dalloway foi inspirada em sua mentora Kitty, - uma socialite que Virginia não gostava de forma alguma. E por não gostar nada de Kitty, na  cabeça de Virginia, a sra. Dalloway deveria inicialmente matar-se, ou talvez simplesmente morrer no fim da festa - uma forma de transferir sua vontade na vida real para a sua história; porém, quando recebeu a notícia que Kitty tinha falecido, Virginia decidiu deslocar o foco de sua história. A morte continuaria pairando no fim do livro, mas a sra. Dalloway permaneceria viva.
É bem provável que a morte de Kitty tenha servido de catalisador dessa mudança. Mas ainda assim permanecem um mistério os motivos pelos quais Virginia não quis que a sra. Dalloway tivesse o mesmo fim que sua inspiradora na vida real. Ela então inventou o personagem de Septimus Smith para funcionar como o duplo insano da sra. Dalloway.
Virginia foi buscar inspiração em sua vida para vários personagens de Mrs. Dalloway. Quando tinha cerca de 15 anos, ela se apaixonou por Madge Symonds Vaughan, uma amiga escritora. No romance, Clarissa Dalloway recorda-se de um beijo apaixonado em Sally Seton, e seus sentimentos fazem eco ao afeto de Virginia por Madge.
A mulher de Septimus, Lucrezia Warren Smith, foi inspirada na bailarina russa Lydia Lopokova. Virginia conheceu Lydia por meio de seu amigo, John Maynard Keynes. Apesar de casada com John, Lydia era tratada como uma estranha pelo grupo exclusivo de intelectuais na qual Virginia fazia parte. Ao observá-la, Virginia veio a entender como era para uma imigrante abrir caminho numa vida nova num país diferente, e projetou essas experiências na italiana Lucrezia. A autora ficou de tal maneira envolvida com o personagem que certa vez, num embaraçoso lapso, chamou a bailarina de Rezia.
Apesar de ter focalizado o mundo de uma socialite em Mrs. Dalloway, Virginia rejeitava totalmente esse estilo de vida.
Fui atrás de informações sobre a história, fiz uma pesquisa enorme para "tentar" melhorar a minha opinião sobre o livro, li vários livros de apoio, mas nem assim deu certo. Não deu química para mim. Gosto muito de Virginia Woolf, e sinceramente, tem obras dela bem melhores.
Basicamente, a história começa com Clarissa Dalloway saindo de sua casa para comprar flores para uma recepção que dará em sua casa à noite. Desse instante até o momento em que acontece a festa, vários personagens vão sendo descritos e ganhando vida na narrativa. Todos, sem exceção, psicologicamente atormentados por fantasmas e demônios, desde homossexualidade, sequelas de guerra, até a mais complexa crise existencial. E todos sem estrutura alguma para resolvê-los.
Virginia, basicamente, nos descreve a mente de cada um de seus personagens, minuciosamente, ok, mas diversas vezes nos perdemos na confusão e na loucura da própria autora; se a ideia era essa, de trabalhar e expor os fantasmas e frustrações de cada um, acho que a narrativa falhou. Sinceramente.
Não achei, nem de longe, a obra tudo isso que descrevem. Tem coisa muito melhor de Virginia Woolf para serem descobertas.
Para mim, Mrs. Dalloway não funcionou como esperava. Nem tentando o caminho analítico da obra deu certo. Talvez se tivesse lido sem nenhuma expectativa, tivesse funcionado um pouco.

Cláu Trigo

7 comentários

  1. Adorei sua resenha e parabéns por não ter medo de falar o que se deve dizer quando um livro não funciona para o leitor. Não conhecia esse livro e também ele não faz parte dos meus gêneros favoritos.

    Um forte abraço!

    ResponderExcluir
  2. Ainda não tinha ouvido falar nesta obra gostei de seu texto, coerente, sincero em cada uma de suas colocações. Não é um tipo de livro que está entre os meus favoritos, mas sempre é bom conhecer novas obras e melhor ainda já tendo uma noção do que está contido nela.

    ResponderExcluir
  3. Oi, tudo bom?
    Eu não conhecia esse livro, deve ser muito difícil ler um livro que nao te prende eu não conseguiria 😀 Mas acho que sempre temos que tentar ler para saber se o rumo da história muda ❤

    ResponderExcluir
  4. Olá, tudo bem?

    Você acredita que eu ainda não li nenhum livro da Virginia Woolf?Apesar de ouvir comentários super positivos, nunca tive uma curiosidade para ler. Tem alguma recomendação sobre qual livro começar e ver se gosto do seu tipo de narrativa e história?
    Pelo jeito não será por essa, já que parece que ela se perdeu um pouco e fez muita confusão junto com as mentes perturbadas de seus personagens. Não parece ser o tipo de livro que gostaria de ler.

    Apesar disso, obrigada pela dica :)
    Abraços.

    https://instantesmemoraveis.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  5. Em primeiro lugar, adorei a sua sinceridade, creio que isso é o que faz uma resenha ser realmente boa. Em segundo, nunca li esse livro, mas já tive algumas experiências com outras obras da Coleção Folhas, e acho que pelo que li aqui sobre Mrs. Dalloway, seria bem difícil incluir na minha lista de leituras. Mesmo assim, vou anotar sua dica!

    Abraços

    ResponderExcluir
  6. Oi, Tudo bom?
    Nossa que pena que não rolou uma química bacana, eu nunca li , mas sempre fico chateada quando crio grandes expectativas com uma história.
    Beijos, Joyce de Freitas.

    ResponderExcluir
  7. A idéia do livro em si parece ser legal, mas o chato de quando você ouve geral falando bem de um livro e vai ler, as vezes você acaba se decepcionando por ter as expectativas tão altas para a historia, mas ela não te satisfazer. Eu sou do tipo que quando estou lendo um livro ainda mais aqueles que super me indicaram vou lendo tudo na esperança de tentar entender porque gostaram tanto. Embora você não tenha "gostado" desse, achei o enredo super interessante.

    ResponderExcluir