As Horas - Continua Não Funcionando


"Tinha parecido o começo da felicidade, e Clarissa ainda se choca, trinta anos depois, quando percebe que era a felicidade; que a experiência toda repousa num beijo e num passeio, na expectativa de um jantar e de um livro. O jantar já foi esquecido; Lessing foi há muito suplantada por outros escritores; e até mesmo o sexo, depois que ela e Richard chegaram a esse ponto, foi ardente mas canhestro, insatisfatório, mais gentil que passional. O que continua iluminado na mente de Clarissa, mais de três décadas depois, é um beijo ao entardecer, num trecho de grama seca, e um passeio em volta do lago, com mosquitos zumbindo no ar que escurecia aos poucos. Permanece intacta aquela perfeição singular, perfeita em parte porque parecia, na época, tão claramente prometer mais. Agora sabe: aquele foi o momento, bem ali. Não houve outro".

"As Horas", de Michael Cunningham, Editora Companhia das Letras, é uma re-leitura de "Mrs. Dallowaynos dias atuais.
Como fui uma daquelas pessoas que não foram "envolvida" pela história de Virginia Woolf, "As Horas" funcionaram um pouco melhor.
Vi o filme antes de ler o livro, e é bem fiel, o que já é uma grande coisa, visto que hoje existam tantas adaptações ruins na telona.
Peguei "As Horas" logo que acabei "Mrs Dalloway", queria de todas as formas melhorar minha opinião sobre o livro de Virginia Woolf, mas cai na mesma sinuca de bico. Não adianta, "Mrs Dalloway" não funcionou para mim. Quem sabe daqui três décadas...
"As Horas" foi um pouco melhor. Mesmo sendo uma releitura atual do clássico, não me convenceu como o esperado.
O livro conta três histórias que se entrelaçam: a vida de Virginia Woolf, e de duas americanas. Clarissa Vaughn e Laura Brown, personagens de ficção de alguma forma marcadas pelo romance "Mrs. Dalloway", que Virginia escreveu em 1925.
O clássico, que trabalha o suicídio e a recusa de uma vida "normal", servirá de matriz para "As Horas", que foi, por sinal, o título provisório de "Mrs. Dalloway". 
Michel Cunningham se apropria do universo woolfiano, atualizando-o para nossos dias. Nos oferece tramas paralelas de um dia na vida de suas três mulheres.
Virginia, em 1923, quando está escrevendo "Mrs. Dalloway", em Richmond, subúrbio de Londres, onde, junto com o seu dedicado marido, Leonard, busca a quietude necessária ao seu conturbado estado mental.
Laura, num subúrbio de Los Angeles, em 1949, casada com um herói da Segunda Guerra, mãe de Ritchie, garoto indagador e hipersensível de três anos de idade, e grávida do segundo filho.
E Clarissa, editora bem-sucedida de Nova York, cinquenta anos, bem casada com uma produtora de TV e melhor amiga do poeta Richard, também gay e aidético terminal, para quem está organizando uma festa de comemoração pela conquista de um prêmio literário.
As três têm em comum o sentimento de indignação ao mundo cotidiano, que lhes reservam papéis bem definidos, com suas cotas de alegrias e sacrifícios regulamentadas. Todas procuram algum grau de profundidade filosófica, poética e existencial nas experiências mais comuns.
A leitura foi mais rápida e menos chata do que o clássico, apesar da matriz ainda ser a história de "Mrs, Dalloway". Convenceu? Não. Continuo à busca do santo Graal. Quem sabe daqui algumas décadas, numa releitura.

Cláu Trigo

12 comentários

  1. Oiii Claú tudo bem?
    Esse realmente parece ser aquele livro que deixa o leitor afoito, e sem chão, sabendo que traga algo de Virginia, senti-me envolvida pelo enredo e sei que adoraria ler e vivenciar cada partizinha, além disso, amei a capa.
    Beijinhos

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  2. Olá, tudo bem?
    Confesso que a obra me chamou a atenção ainda mais depois da sua resenha. Amo Mrs. Dalloway e releituras de classicos por isso essa obra parece perfeita pra mim. Essa é a primeira resenha que leio da obra e apesar de você não ter sido muito positiva sobre ela vou sim dar uma chance. Acho que vou gostar
    Beijos

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  3. Eu tenho muita vontade de ler esse livro. Estou lendo Ao anoitecer, do mesmo autor, e estou gostando muito. Eu ainda não li Mrs, Dalloway, mas creio que não acharia um livro chato, pois gosto muito de Virginia Woolf. Adorei a resenha!

    Tatiana

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  4. Oii, tudo bem?
    Ainda não li nada da Virginia Woolf e quero mudar isso muito em breve. Adoro releituras, pena vc não ter gostado tanto. Vou dar uma chance já que tem elementos que curto em livros.

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  5. Olá, menina, preciso ler esse livro. Sempre falam da adaptação que eu ainda não vi, mas é claro que ler é uma experiência bem mais profunda. Amei sua resenha. Vou até anotar a dica pra não esquecer. Bjs

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  6. Não tinha visto ainda, mas confesso que não me chamou tanto atenção, apesar de ter interesse de ler o clássico. Uma pena que não foi tão bom para você.
    Bjs, Rose

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  7. Olá! Nunca vi o filme e não sabia que tinha um livro. As vezes é difícil conseguir gostar de um livro clássico, eles simplesmente não funcionam da maneira como gostaríamos.
    Mas confesso que reli e não entendi muito bem a relação entre As Horas e Mrs Dalloway. São dois livros diferentes da mesma autora e que se passam no mesmo ambiente? Só fiquei um pouco confusa ou talvez não soube interpretar direito.

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  8. Oi, tudo bem?
    Sempre ouvi muitos elogios para o filme, mas não conhecia o livro. Confesso que nunca tive muita curiosidade para ler os livros da Virginia Woolf e, sua resenha, confirmou minha impressão. Mesmo você falando que As Horas é uma releitura um pouco melhor do que o livro dela, acredito que eu também iria achar uma leitura arrastada.
    Talvez daqui alguns anos eu me interesse em ler tanto Mrs Dollaway quanto As horas, mas, no momento, não são leitura que me interessam.
    De qualquer forma, adorei sua resenha.
    Beijos!

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  9. Pena que não te convenceu e que considerou a leitura menos chata que a do clássico apenas... Hehe... Curto muito ler clássicos, mas Mrs. Dalloway não cruzou minha vida ainda, e acho que se cruzar vou evitá-lo por enquanto... Quanto a essa releitura, não leria sem ler o original antes.

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  10. Oie,
    Não li o clássico, mas está na minha meta para poder ler o quanto antes.
    Pena que não te convenceu e não atingiu a sua expectativa. É bem complicado quando conhecemos a história original e temos essa comparação.
    Beijos

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  11. Olá!! :)

    EU confesso que nunca tinha ouvido falar sobre este livro. É uma pena que te tenhas sentido um pouco desiludida...

    Confesso que não faz muito o meu género, e que a capa não me chama nada a atenção.

    Boas leituras!! ;)
    no-conforto-dos-livros.webnode.com

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  12. meu contato com Dalloway tb não foi feliz, e olha que gosto de Woolf... acho que li num mal momento... já As horas nem sabia que fazia referência a obra... se tiver chance lerei... quem sabe eu aprecie?
    bjs...

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