Resenha: A Arma Escarlate - #OlharNosNacionais

Foi Caimana quem respondeu. "O erro de um sistema que treina seus filhos para agirem por medo de punição, não pelo desejo de manter a harmonia. No momento que a autoridade desaparece, o sistema se autodestrói. Nesse caso, no momento em que os professores somem, os alunos bagunçam tudo. Porque sabem que ninguém irá puni-los."
Com certeza, esse era o livro que mais estava ansiosa para ler do nosso desafio Olhar Nos Nacionais. E foi "A Arma Escarlate", Editora Novo Século, da Renata Ventura, que fez eu voltar a ler rápido e com vontade.

Tenho esse livro a algum tempo, e na Bienal de SP de 2016 consegui o autógrafo da Renata e, sinceramente, hoje fico muito feliz de ter conseguido, pois foi um livro que amei e com certeza entrará nos melhores do ano!

Aqui, acompanharemos a vida de Idá Aláàfin, um garoto de 13 anos que vive com a mãe e a vó dentro de um contêiner, na favela de Santa Marta, localizado no Corcovado, Rio de Janeiro, em 1997. Durante um tiroteio, tentando fugir do chefe do tráfico, Idá (ou melhor, Hugo!) descobre que é um bruxo. Na sua fuga, Hugo só tem um objetivo: aprender magia suficiente para enfrentar o bandido e ajudar a sua família.

O livro já começa no meio de toda a ação do tiroteio e entramos na leitura um pouco perdidos. Mas com o passar das páginas, a história vai se encaixando e nos explicando cada detalhe desse mundo fantástico presente nesse nosso país que tanto amamos, mesmo com seus problemas que parecem que nunca vão se resolver. Mas isso é história para outra hora...

Como era um livro que estava muito ansiosa para ler e que tinha colocado muitas expectativas, o medo de me decepcionar era grande. Felizmente, isso passou longe de acontecer. Desde o começo, a Renata deixa muita claro a inspiração nos livros de Harry Potter e no mundo criado pela J. K. Rowling. E em nenhum momento ela esconde isso. Porém, com o passar dos acontecimentos, ela consegue se desprender dessa ligação e cria o seu próprio mundo, com a sua própria história, que é bem diferente dos sete livros de HP.

Começando que esse primeiro livro é bem mais pesado e trata de assuntos bem mais sérios do que todos os livros ingleses. Segundo que ela consegue trazer muito bem a nossa cultura, de um jeito que vamos lendo e vamos pegando as referências - e até rindo em diversos momentos, como ocorreu comigo, por sabermos que aquilo facilmente ocorreria. Nos aproximamos da história e isso é sempre muito importante para um livro/autor.

Hugo é um personagem difícil de agradar todo mundo, pois ele diversas vezes toma atitudes erradas, ou não pensa antes de agir. Mas vamos entendendo as ações dele, mesmo que não sejam corretas. E isso mostra como ele foi tão bem construído. Ele é gente como a gente, e por mais que critiquemos em vários momentos, sabemos que diversas vezes temos atitudes parecidas.

A escola é interessantíssima e super criativa. Ela fica simplesmente dentro do Corcovado! E ela por dentro é incrível. Só lendo para captar toda a beleza e grandeza dela. Os bruxos presentes na obra, desde os professores até os alunos, tem aquele quê de complexo de vira-lata que todo brasileiro adora ter - tudo que é do outro é melhor, e por isso temos que copiar.

A escola da Europa é melhor, portanto eles tentam ao máximo ficar parecido, mesmo que a nossa cultura seja diferente; falando em cultura, obviamente, para muitos, a cultura inglesa, francesa ou de qualquer outro país é melhor do que a nossa, mesmo a nossa sendo riquíssima (que inclusive a Renata consegue introduzir muito bem)!

Para quem tem curiosidade, os trouxas no Brasil são chamados de azêmolas - palavra um pouco desconhecida no nosso vocabulário, mas que simplesmente é sinônimo de trouxa, palavra hoje que ganhou outro significado graças à J. K. Super criativo e mais um ponto para a autora.

Além do Hugo, os outros personagens também são muito bem construídos, e alguns são fáceis de gostarmos, já outros nem tanto...

Para quem já leu ou pretende ler, duvido alguém não gostar do Capí. em vários momentos, me vi concordando com os pensamentos do Viny e achei demais a Caimana. Sobre o Índio, ainda não tenho uma opinião formada.

A realidade que ela consegue transmitir para o livro, dos problemas sociais, econômicos, políticos que tão bem conhecemos, é absurda. Além dela trazer discussões sobre vários assuntos extremamente importantes, como por exemplo, a questão da droga, muito bem tratada na história toda.

Para terminar, alguns detalhes que achei muito diferente na história, e duas observações positivas sobre a edição. Primeiro, que a varinha do Hugo é feita de madeira da Ibirapiranga (mais conhecida como Pau-Brasil), com Alma de Curupira. Segundo, que existem cinco escolas de magia no Brasil: a do Rio, que é aonde se passa esse primeiro livro (chamada Korkovado), uma que fica em Salvador, outra na Amazônia, a quarta no Sul e a última em Brasília.

Perceberam um pouquinho da introdução da nossa cultura que mencionei? Agora sobre a edição, tenho que citar essa capa lindíssima e ressaltar que não achei nenhum erro no livro - seja de gramática, de digitação ou de concordância - e isso é muito importante, pois sempre estou encontrando erros nas obras nacionais ou traduzidas.

Quero muito comprar logo o segundo para ler, mesmo sabendo que tem 655 páginas (esse também é bem grosso, com quase 500 páginas). E, pelo que sei, o terceiro que ainda está sendo escrito, vai ser mais grosso que os dois. No entanto, nesse caso, não tem nenhum problema, pois li super rápido. Inclusive, foi a leitura dele que me fez voltar a ler mais rápido e até com mais vontade, por assim dizer.

Sei que a resenha ficou gigante, mas o livro merecia. E mesmo assim, não consegui passar tudo o que queria. Só digo para lerem, pois vale muito. Para finalizar, seguem a ordem dos dois livros (por enquanto) e os links para a compra na Amazon - que comprando por eles, vocês ajudam o blog a continuar crescendo!

1. A Arma Escarlate - Compre aqui;

2. A Comissão Chapeleira - Compre aqui.


Até a próxima e boa leitura!

Carol!!!

24 comentários

  1. Queria ser assim, pegar meus livros adquiridos em 2016 e ler sem medo, mas sou tão enrolada que a pilha só aumenta, acredita? Fico feliz que essa história tenha elementos tão bons assim e seja um livro nacional, sinal de que precisamos valorizar nossos autores, porque bom material tem de sobra! Eu não conhecia a obra mas fiquei curiosa pra saber como ela trabalha os aspectos sociais nela, obrigada pela dica!

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    1. Oi Dayhara!
      Mas não acredita muito nisso não, rsrs. Apesar de ter pego alguns livros mais antigos, a pilha mais aumenta do que diminui.
      O que mais gostei no livro foi como ela trabalhou os aspectos sociais, mostrando infelizmente uma realidade nossa.
      Bjss

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  2. Oi Carol!

    Tudo bem? Na época do lançamento de A Arma Escarlate eu vi muita gente falando bem esse livro que me deu uma vontadinha de ler, mas depois passou.

    Deu pra sentir sua empolgação com o livro. Essa questão da varinha do Hugo e das escolas me lembrou muito de HP, mas deu pra perceber que as similaridades param por aí. Mesmo assim, vou passar a dica porque realmente não estou numa vibe de fantasia.

    Beijinhos - Jessie
    www.paraisoliterario.com

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    1. Oi Jessie!
      Eu realmente fiquei muito animada com esse livro. Foi ele que me fez voltar a ler mais rápido, então tenho muito a agradecer, rsrs.
      Entendo. Como fazia um tempo que não lia fantasia, ele super se encaixou.
      Bjss

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  3. Eu sempre vi essa capa, mas nunca tinha parado para saber sobre o que se tratava a obra. Fiquei admirada e muito interessada ao saber que é uma fantasia, com bruxos e tudo mais, e, que se passa no Brasil. Achei muito bacana e fiquei muito curiosa para conferir tudo.
    beijos

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    1. Oi!
      É muito louco ler esses tipos de aventuras se passando no Brasil. A gente vai lendo e vai conhecendo os locais, a cultura, as referências.
      Bjss

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  4. Olá! Já vi algumas resenhas sobre este livro, mas nunca tinha de fato parado pra ler. Tive a impressão, muito forte aliás, que parece demais com HP, demais pro meu gosto. Trocando nomes e lugares, termos diferentes, tive essa sensaçção o tempo inteiro, de estar lendo algo sobre uma fan fic do HP. Não, sei, pode ser um erro meu, mas isso me tirou totalmente o interesse. Obrigada pela dica!

    Bjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥

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    1. Oi Aline!
      Apesar de em nenhum momento ter me importado com isso, o começo lembra em muitos momentos HP. Mas depois a autora consegue se desprender disso. Além de que a escrita dela é ótima e ela consegue trazer muito bem a nossa cultura!
      Bjss

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  5. Olá, Carol!

    Te confesso que nunca tinha ouvido falar da autora ou dessa obra. É a primeira resenha que leio e já fiquei super interessada. Primeiro pela semelhança com Harry Potter (que amo!) e segundo pelas diferenças. Afinal de contas, o fato da autora introduzir num livro de fantasia assuntos tão importantes como os dos problemas sociais, que já se percebem com os tiroteios que ocorrem no livro e o fato do protagonista morar numa favela. São coisas reais, que existem muito no Brasil e fico imaginando como a autora as abordou. Pelo que você disse, ela conseguiu perfeitamente misturar fantasia com realidade na medida certa e de forma a envolver o leitor. Fico muito curiosa!

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    1. Oi Luna!
      Exatamente. E foi por essa questão dos problemas sociais que gostei tanto da história. A mistura entre fantasia e realidade é bem maior que em HP. Poderia dizer até que é meio a meio.
      Bjss

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  6. Oi Carol tudo bem? Uma amiga me falou desse livro, mas é a primeira resenha que leio dela. Pelo que entendi retrata muito bem como é o Brasil, e nas favelas como as pessoas sobrevivem, achei muito interessante a autora fazer um livro inspirado a do HP, apesar do que você comentou que ela desprendeu disso e pôs em prática sua criatividade. Parabéns pela resenha, obrigado pela dica, bjs!

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    1. Oi Cris!
      Para mim, ela retratou muito bem a realidade de muitos. Fico feliz que tenha gostado da resenha!
      Bjss

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  7. Olá!
    Não conhecia essa autora e não sabia dessa obra. Lendo sua resenha achei interessante a ambientação, além de termos uma mistura de gêneros o que me atrai muito nas leituras. Parece ser um enredo bem instigante e com um ritmo gostoso apesar de cenas bem conflitantes para o destino dos personagens.
    Espero que o segundo livro seja tão bom quanto esse.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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    1. Oi Camila!
      Apesar de ser um livro de fantasia, a autora consegue misturar muito bem o gênero com o drama, que muitas vezes é bem pesado.
      Então somos duas. Também espero que ela não perca a mão...
      Bjss

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  8. Eu já li esse livro e foi uma das piores coisas que eu já li, tipo não é ruim desde que vc esteja drogado ou bêbado, e tenha feito a mesma coisa que o hugo como manda todos a cheirar cocaína, nada versos nada se compara com o nosso amado Harry Potter, é tipo a versão fracassada dele, sem apelo algum e carisma zero. Alguém tem que mostrar sobre como se escreve um livro sem ser enfadonho e que se inspire em coisas que gostamos mais de ver ao invés de realidade brasileira!

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  9. Olá, tudo bem?
    Eu já tive curiosidade de ler esse livro, mas confesso que hoje em dia já perdi o interesse. Em grande parte, se deve ao fato de que o livro parece ser mais uma fanfic de Harry Potter. Mesmo que você tenha dito que ele se desprende dos livros da J. K. Rowling e ganha um universo próprio, me incomoda que o livro tenha tantos elementos assim de referência a HP. Nada contra a autora ter se inspirado em Harry Potter, mas acredito que isso poderia ter sido feito de maneira mais sutil. A série Instrumentos Mortais, por exemplo, teve forte inspiração em Harry Potter, mas não é algo que fica tão evidente desde a sinopse, como é o caso deste livro.
    Infelizmente, é uma leitura que já não me interessa mais. Porém, fico muito feliz que você tenha aproveitado tanto a leitura e adorei ler suas impressões sobre o livro.
    Beijos!

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    1. Oi Maria!
      A questão é a autora quis se inspirar no modelo da história de HP, não só alguns elementos, como a Cassandra Clare. Ela traz os elementos básicos: uma escola de magia, varinhas, bruxos, criaturas (que inclusive, muitas são bem diferentes). Mas o desenvolvimento é bem diferente - até porque ela coloca muito bem a nossa realidade, que é bem diferente da Inglaterra. Tanto que logo na primeira página, ela agradece a J. K. Rowling!
      Mas entendo que possa não interessar alguns leitores por causa das semelhanças.
      Bjss

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  10. Ainda não conhecia o livro e mesmo sem ter lido, estou empolgada igual você querendo saber o que você vai achar do segundo livro. 655 páginas é só par aos fortes, não é mesmo???
    Beijos

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    1. O Ivi!
      Rsrsrs, que bom que deixei você empolgada também, só com a resenha. A maior questão dessa série são o tamanho dos livros. Eles só aumentam.
      Bjss

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  11. Oi Karini!
    Conheci ela na última Bienal de São Paulo e apesar da correria do dia, ela foi super atenciosa. Tinha um pouco desse medo também, pois HP é a minha série favorita, mas ela conseguiu me surpreender e se desprender dessa comparação.
    Sobre as continuações, o segundo já foi publicado e acompanho ela no Facebook e sei que ela está na fase final do livro, de escrita e revisão. Então imagino que ano que vem já tem chance dela estar lançando!
    Bjss

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  12. Olá, Carol.

    Tive o prazer de conhecer a autora em uma das bienais que eu fui, ela é super simpática, só aí já me ganhou. Infelizmente ainda não tive contato com a escrita dela, mas futuramente pretendo ler os livros dela.
    Eu amo livros de fantasia, e saber que ela se inspirou em HP para escrever seu livro foi ótimo, pois sou apaixonada por essa saga. Fico feliz que tenha superado suas expectativas!

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    1. Oi Ana!
      Fiquei muito feliz de ter conseguido conhecê-la na Bienal, principalmente depois que li e adorei o livro dela.
      Bjss

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  13. Olá,
    Sou um apaixonado por nacionais e todos tem sempre uma surpresa para mostrar; Ainda não tinha visto nada sobre esse romance, mas pelo que você trouxe na resenha a historia consegue prender atenção de quem o lê,o que é bastante interessante. Amei como a autora escreve, e ja anotei a dica.

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    1. Oi Salvattore!
      É impressionante como encontramos livros nacionais tão bons, sendo que alguma vezes, nem conhecíamos eles.
      Bjss

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