Resenha: Desejo - Um 'Rolê' Pelo Mundo

Título: Desejo
Autor(a): Elfriede Jelinek
Editora: Tordesilhas
Páginas: 240
Ano: 2013
País: Áustria
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: A obediente Gerti é casada com Hermann, diretor de uma fábrica de papel para quem tanto os funcionários como a mulher têm um valor meramente instrumental. Apesar de criança, o filho do casal já se mostra predisposto ao consumismo e a certa perversidade e completa um núcleo familiar disfuncional em que imperam a dominação sexual, a humilhação e o abuso de poder.
Elfriede Jelinek constrói essa narrativa usando estruturas inovadoras, jogos de palavras inusitados e associações ousadas, num trabalho artesanal com a linguagem, reconhecido ao receber o Nobel de literatura em 2004.

Mulheres jovens, nas quais filhos e vestidos se penduram como forasteiros, têm que ir fazer suas compras justo agora. Querem ver algo. Querem ser algo, assim como essa mulher, quantas coisas não saberiam fazer a partir dali! Presenciar um fiasco no cabeleireiro em plena luz do dia, como nossos esquiadores nos jogos olímpicos de inverno, arrancar dos cabelos sozinhas os aparatos com os quais nós mulheres devemos ser enroladas. Jamais ousariam isso! Olhar sem medo para a própria imagem, pois pelo menos os cabelos realmente se deixam mudar com facilidade quando não mais nos agradamos, minhas senhoras."

O que dizer desse livro? Quando eu escolhi ele para representar a Áustria, eu não fazia ideia do desafio que iria enfrentar. Posso afirmar com toda certeza que esse foi o livro mais difícil que já li em todos os meus 21 anos (até agora, pelo menos).
Durante a história toda acompanhamos o dia-a-dia de Gerti, esposa de Hermann - diretor de uma fábrica de papel - e mãe. Totalmente submissa, Gerti sofre constantemente abusos psicológicos e sexuais, humilhações e violências de todos os tipos possíveis.
Além da trama que já é bem pesada e por causa disso, dificulta a leitura, a escrita da autora é extremamente difícil, já que ela cria toda uma estrutura nova, com palavras novas, que resultam da mistura de duas palavras diferentes - e lembrando que o livro foi escrito originalmente em alemão, então fica ainda mais complicado, e por isso, o trabalho de tradução é tão importante, situação que a editora entendeu e trouxe um tradutor especializado em alemão.
Para vocês terem uma ideia, em um certo momento da história, a autora cria a palavra "Schlammzimmer", que seria um dormitório ("Schlafzimmer") onde seus ocupantes como que chafurdam no lodo ("Schlamm") - isso, no português, virou um "loditório", palavra que obviamente não existe, como no alemão. E isso irá se repetir diversas vezes durante o enredo, o que torna a nossa leitura complicada, pois nem sempre fica tão óbvio o que a autora quer passar.
Portanto, somando uma escrita dificílima e uma história pesada, ainda temos uma repetição constante dos fatos, já que, infelizmente, aquela é a rotina da protagonista. Isso cansa um pouco e deixa a leitura bem devagar, resultando em uma demora de mais de um mês para eu finalizar.
Mesmo assim, já para entender o que a autora quer passar com essa história (claro que tive que ler alguns textos complementares, que deixarei no final da resenha para saberem quais foram).
Então, para quem quiser realmente um desafio, recomendo o livro, pois acredito que vocês nunca leram algo parecido. Mas cuidado, o livro é extremamente pesado, com diversos gatilhos, então só leiam se estiverem em um bom momento.
Uma história que deu para ter alguns vislumbres da Áustria capitalista (algo que também é criticado pela autora), resquícios do Império Austro-Húngaro, e dos valores monárquicos e patriarcais do século XIX. Um livro político e social.

Links que usei:


Até a próxima e boa leitura!

3 comentários

  1. Olá, tudo bem? Confesso que pela capa não seria um livro que me atrai (preciso parar de julgar pela capa), por isso sempre gosto de procurar saber mais sobre a obra e suas considerações despertaram o meu interesse e me deixaram bem curiosa.

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  2. Eu nunca tinha ouvido falar da história e só em ler a resenha já fiquei com a sensação de claustrofobia, imaginando a dor e desespero de cada dia da vida dessa mulher. Não sei se conseguiria ler, fiquei preocupada em ter dificuldade com a história não só por causa do tema pesado, mas também pela inovação de escrita da autora, ao criar palavras novas e que não são fáceis de entender.

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  3. Olá Carol!!!
    Eu acho que no momento que não teria uma estrutura boa para ler um livro do gênero, pois não sei se estou querendo ler livros com algo mais pesado e com uma leitura complicada com palavras desconhecidas. Mas anotarei a dica para um futuro próximo.

    lereliterario.blogspot.com

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