Resenha: A Comissão Chapeleira (Livro 2)

Título: A Comissão Chapeleira
Autor(a): Renata Ventura
Editora: Novo Século
Páginas: 655
Ano: 2014
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Atormentados pelos crimes que cometeu em seu primeiro ano como bruxo, tudo que Hugo mais queria naquele início de 1998 era paz de espírito, para que pudesse ao menos tentar ser uma pessoa melhor. Porém, sua paz é interrompida quando uma comissão truculenta do governo invade o Rio de Janeiro, ameaçando uniformizar todo o comportamento, calar toda a dissensão, e Hugo não é o único com segredos a esconder. Para combater um inimigo inteligente e sedutor como o temido Alto Comissário, no entanto, será necessário muito mais do que apenas magia. Será preciso caráter. Mas o medo paralisa, o poder fascina, e entre lutar por seus amigos, ou lutar por si próprio, Hugo terá de enfrentar uma batalha muito maior do que imaginava. Uma batalha com sua própria consciência.

Em sua essência, todas as religiões falam das mesmas coisas. A maioria ensina valores como retidão, honra, caridade, coragem, humildade, dever, honestidade, perseverança, fé; outras focam nos aspectos mais práticos da vida, são conselhos de como seguir, do que fazer. Não se contradizem nisso. O que importa é a moral que elas ensinam. Eu respeito Jesus, porque ele ensinou coisas lindas, então eu saúdo Jesus. Eu respeito Buda pelo mesmo motivo, então eu saúdo o Buda. Xangô é o orixá da justiça, e eu respeito a justiça, então, eu saúdo Xangô; e saúdo também Oxum, orixá do amor, da beleza, da diplomacia, e Ossaim, orixá da cura. No fim, tudo é questão de respeito, tolerância e reverência por aquilo que é certo e justo. Por isso, eu respeito todas as religiões que, em sua essência, respeitem as outras... e respeito todos os homens de bem que passaram por elas."

O que dizer sobre esse livro? Se eu já tinha amado o primeiro volume (A Arma Escarlate), com esse eu simplesmente enlouqueci.
Como já fazia dois anos que eu tinha lido o primeiro, alguns detalhes eu tinha esquecido e não lembrava muito bem sobre alguns personagens. Mas isso não foi um problema, já que, enquanto eu lia, fui pesquisando para ter certeza.
Agora, sobre a história.
Depois do que aconteceu no primeiro ano na Korkovado, tudo o que Hugo queria para 1998 era ter, finalmente, dias mais tranquilos - algo que ele não conhecia. E tudo aparenta estar andando bem: agora ele trabalha em um loja de varinhas, está tentando ser uma pessoa melhor e conseguiu achar um lugar melhor para a sua mãe morar.
No entanto, as coisas começam a mudar quando um grupo do governo, liderado pelo Alto Comissário, invade o Rio de Janeiro, com o objetivo de uniformizar todo o comportamento estudantil e introduzir uma ditadura, não só na Korkovado, mas também nas outras quatro escolas de magia que existem no Brasil.
Enquanto eu lia, fui lembrando de como o Hugo faz bobagem e não pensa antes de agir, de como o Capí é perfeito, de como gosto da atitude da Caimana e de como o Índio é seco. Talvez a descoberta mais surpreendente tenha sido do Viny, pois vamos conhecendo mais da sua história.
O livro é perfeito por tantos motivos que fica até difícil enumerar todas elas na resenha. Mas deixo tentar, pelo menos, passar pelos pontos.
Primeiro, que a Renata trabalha muito bem a questão política e social da história. Além da ditadura que o governo mágico está tentando implementar no país, fazendo com que o medo cresça, todas as diferenças são extintas e os estudantes devem imitar a cultura européia, ou seja, as vestes utilizadas lá, a música que escuta, as matérias que aprendem.

"Pois é. É perigoso demais da conta poder fazer quarquer feitiço que dê na telha, mas vem a calhar. É o que o meu tio sempre diz: o Esperanto é uma língua com um baita de um objetivo nobre, de unir os povo de mundão, mas continua sendo uma língua. Uma ferramenta. Funciona muito bem pra unir, mas algumas pessoa vão  fazer o que quiser com ela."
"Claro", Caimana completou entristecida, "assim como uma caneta pode ser usada para escrever poemas de amor ou para enfiar no estômago de alguém. Ainda assim, é melhor ter a caneta do que não ter."

Além disso tudo, outro ponto político que a autora trabalha muito bem é que, como 1998 é ano de eleições governamentais, existe toda aquela irritante briga entre políticos e ela retrata muito bem - mostrando que até no mundo bruxo existem aqueles políticos interesseiros.
Já na questão social, em um determinado momento, Hugo precisa ir para a escola de magia de Salvador e é impressionante a diferença cultural entre o Nordeste e o Sudeste, além de lá, tanto a escola como os alunos respeitarem muito mais as diferenças sociais e religiosas, como a frase do começo da resenha dita por Janaina evidencia.
Esse segundo volume é muito mais pesado, sério e triste, pois todos estão sendo cada vez mais censurados e coagidos - e isso resulta em violência, desrespeito e ignorância. É impressionante como a Renata consegue entender o momento político do país (e não digo só recente, onde estamos no ápice da ruindade humana).
Gosto muito quando um livro de fantasia consegue ir além de seres mágicos e feitiçaria. Apesar de serem bruxos, eles passam por todos os problemas que nós passamos, com governantes que só se importam com o dinheiro, com autoridades repressoras e a educação acabando.
Houve só uma questão que me incomodou um pouco: o relacionamento amoroso do Hugo. Sempre que ele estava com a pessoa (que não falarei quem é, para não estragar a experiência de ninguém), ele mudava muito de personalidade - e para pior. Muito ciumento, a ponto dela não poder conversar com ninguém. Me incomodou um pouco... Mas acho que no final, ele percebeu como as suas atitudes eram erradas (pelo menos espero).
Um excelente livro, com um mundo construído maravilhosamente bem, dando a devida importância que a nossa cultura merece, com bastante ação e um panorama políticos muito realista. Recomendo demais e já estou ansiosa pelo próximo volume: O Dono do Tempo - Parte 1.

Até a próxima e boa leitura!

10 comentários

  1. Achei legal explorar os anos 90 no livro. Principalmente porque 1998 ano político, deixa o livro mas crítico nesse sentindo.
    Não conhecia a história e fiquei bem ansiosa para ler.

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  2. esse livro só não é mais mal escrito que o 50 tons de cinza porque não é pornô. Olho grande miserável da escritora pra fazer 600 intermináveis páginas só pra parecer inteligente! .I.

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  3. Oi Carolina,
    Eu não conhecia esse livro, e até assumo que se não fosse sua resenha, eu não daria a devida atenção a ele, pois a capa e o título não chamam em nada minha atenção, rs.
    beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  4. Olá, Carolina

    Eu tenho curiosidade de ler esta série desde que a conheci em um evento há alguns anos. Me agrada muito essa ambientação tupiniquim e já amei que no nordeste o povo tem outra vibe, na vida real vimos isso nas últimas eleições também! Rs

    Beijos
    - Tami
    https://www.meuepilogo.com

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  5. Oi, Carol.
    Eu já tinha visto o primeiro livro dessa série, mas ainda não sabia do que se tratava! Depois dessa sua animação toda, minha curiosidade vai me obrigar a procurar por mais informações! Rs...
    beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  6. Olá, tudo bom?
    Não conhecia essa série ainda, mas curti muito saber o quanto gostou desse segundo volume e como ele atingiu todas as suas expectativas. Fiquei bem curiosa para conferir como a autora desenvolveu a sociedade e as questões governamentais. E essa questão do relacionamento realmente não parece legal não.
    Ótima resenha!
    Beijos

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  7. Oiii,

    Eu não conhecia os livros então fiquei um pouco perdida kkkk, mas acho maravilhoso quando a gente se apaixona pelo primeiro livro e ai o segundo se mostra muito melhor e deixa a gente enlouquecida. Eu não sei se por agora eu iria conferir a história, mas é uma boa dica para o futuro, para quando eu estiver procurando algo mais fora da minha zona de conforto.

    Beijinhos...
    equipenerd.com.br

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  8. Eu não conhecia essa obra e também não imaginava que era um segundo livro. Achei a premissa bem interessante e, principalmente, por saber das questões governamentais. Nada que um mundo fantasioso não retrate a nossa realidade, né? Gostei :)

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  9. Olá Carol!!!
    Eu adquirir os primeiros dois volumes dessa saga criada pela Renata, mas tenho que ler porque todo mundo fala bem dele.
    Eu acho que desde que ouvi da autora sempre ouvi falar coisas boas dela e que ela faz críticas que são sinceramente incríveis.
    Adorei a resenha e espero que goste da primeira parte do enredo do terceiro.

    lereliterario.blogspot.com

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  10. Olá!
    lembro quando o primeiro livro foi lançado, li muitos resenhas e comentários sobre a escrita da autora, ainda não consegui pegar para ler, mas fiquei ainda mais interessada na história, ja que adoro uma fantasia!

    beijos

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