Resenha: Morte Invisível (Livro 2)

Título: Morte Invisível
Autor(a): Lene Kaaberbøl; Agnete Friis
Editora: Arqueiro
Páginas: 320
Ano: 2015
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Em meio às ruínas de um hospital militar soviético no norte da Hungria, Pitkin e Tamás procuram antigos suprimentos e armas que possam vender no mercado negro, até que acabam encontrando algo mais valioso do que poderiam imaginar. Ali está a esperança dos meninos ciganos de deixar a pobreza, de quitar as dívidas da família, quem sabe de se livrar um pouco do preconceito que sofre o seu povo. Porém, suas boas intenções podem provocar a morte de um número alarmante de pessoas.
Na Dinamarca, a enfermeira Nina Borg também se preocupa com o bem-estar dos desfavorecidos, e por isso colocará sua vida em risco mais uma vez. Chamada às pressas para cuidar de um grupo de ciganos húngaros, ela descobre uma doença misteriosa que se espalha de forma implacável. Ao investigar o caso, percebe que há algo de podre em toda aquela história, um segredo perigoso, guardado a sete chaves pelos imigrantes, que pode envolver terrorismo e fanatismo.

A família havia chegado do Irã três meses antes: a mãe era médica, mas, ali no acampamento, isso não significava muita coisa. Era como se o passado das pessoas fosse apagado e elas perdessem, de uma hora para outra, todas as habilidades, a autoestima, a independência. Nina já vira isso acontecer inúmeras vezes. Depois de um tempo, as pessoas mal conseguiam amarrar os próprios sapatos."
 
A algumas semanas atrás eu postei a resenha do primeiro livro da série policial Nina Borg, intitulado O Menino da Mala. Eu gostei tanto da leitura que logo no mês seguinte eu já peguei o segundo livro (e também o último publicado no Brasil), Morte Invisível.
Aqui, a história começa com dois jovens ciganos húngaros, Pitkin e Tamás, procurando suprimentos e armas em um antigo hospital militar soviético que está em ruínas ao norte da Hungria para vender no mercado negro. Nessa procura, eles encontram algo muito mais valioso, mas também algo muito perigoso, não só para eles, mas para todos ao seu redor.
Enquanto isso, na Dinamarca, a enfermeira Nina Borg é chamada mais uma vez para ajudar um grupo de refugiados. Dessa vez, quem precisa dos cuidados é um grupo de ciganos húngaros que acabou de chegar no país e estão muito doentes.
Além desses dois focos, ainda temos Sándor, um cigano húngaro, irmão de Tamás e estudante de Direito; e Søren, um agente do contraterrorismo da Dinamarca.
A questão é a seguinte: na Hungria, Tamás encontrou algo muito valioso, na qual ele encontra um vendedor na Dinamarca. Para chegar ao país, ele viaja escondido com o grupo de ciganos, mas ele, junto com os outros húngaros, acabam ficando extremamente doentes. Nina Borg então é chamada para tentar ajudá-los, mas nisso ela se mete em uma investigação do contraterrorismo, chefiada por Søren, já que o tal objeto pode ser usado como arma por grupos fanáticos. Ao mesmo tempo em que tudo isso está acontecendo, Sándor, que está ainda na Hungria, é procurado pela polícia e por um grupo terrorista em razão do seu irmão que sumiu.
Essa leitura foi mais demorada do que a do primeiro livro, em razão de dois motivos: primeiro que eu demorei um pouco para entender o que era essa tal "arma" que Tamás tinha encontrado e que era tão perigoso para todos, a ponto de ser investigado como terrorismo - mas depois que você entende, o título do livro fica muito interessante -; segundo que a Nina, que é uma personagem na qual gosto muito, demorou para aparecer. No final, apesar da óbvia importância que ela tem, quem ganhou o protagonismo para mim foi Sándor. O desenrolar dele durante a história toda é muito complexo e lotado de obstáculos, mas dá para perceber que ele é uma boa pessoa, mesmo as autoras não tendo deixado muito claro o seu final, o que me incomodou um pouco.
Como no outro livro, a questão política e social é muito importante o tempo todo. Eu não conhecia muito sobre os horrores que os ciganos na Europa passavam (e ainda passam) e olha, não é fácil. Além disso, tem a situação da própria Hungria, que até hoje vivencia muito racismo.
Inclusive, toda a discussão que há sobre essa opressão na Hungria foi o que eu mais gostei no livro todo. Eu sabia brevemente sobre o tamanho desse problema para o país, mas durante a leitura, isso só ficou mais evidente. Além da raiva que sentia enquanto estava lendo sobre essas opressões, fiquei com muito medo, pois olho para o Brasil e vejo muitas semelhanças.

Involuntariamente, Sándor escorregou alguns centímetros no banco. Aquilo só podia ser coisa dos Jobbik*, que mais uma vez saíam às ruas para pedir a cabeça dos judeus, dos comunistas e dos ciganos, de todos aqueles que estavam "levando a pátria à ruína".
- Esses idiotas... - resmungou Lujza, e crispou os lábios como se tivesse descoberto alguma porcaria na sola dos sapatos. - Um bando de racistas, de conformistas lobotomizados.
O motorista se virou e lançou a Luzja o mesmo olhar desconfiado que havia desferido contra Sándor no início da viagem.
- Os Jobbik não são racistas. Querem uma Hungria melhor, só isso.
Essa não, pensou Sándor, não comece uma discussão.
Era uma esperança infundada. Luzja se empertigou no banco e fuzilou o taxista com os olhos, 58 quilos de indignação contra 117 de banhas e músculos nacionalistas.
- E que tipo de Hungria seria essa? - questionou ela. - Uma Hungria clinicamente expurgada de todo tipo de diversidade? Uma Hungria em que você pode ser preso só porque sua pele tem uma cor diferente. Uma Hungria em que é perfeitamente aceitável que os ciganos tenham menos quinze anos de expectativa de vida que o resto da população?
- Se eles querem viver mais, é só beber menos, ora. Também seria bom que parassem de espalhar suas doenças por aí.
- Onde é que o senhor aprendeu tanta bobagem? Na HIR TV?
- Bem, alguém precisa dizer a verdade, já que o governo não faz isso - insistiu o homem. - Queria ver a senhorita dirigindo um táxi à noite em Budapeste. As ruas são controladas pelas gangues de ciganos. Você pisca para o lado errado e eles enterram uma faca no seu pescoço. Essa gente é pior que animal."
 
*Jobbik: Movimento Por Uma Hungria Melhor. Principal partido de direita do país. São nacionalista radical, conservadores e radicalmente cristãos. Seu propósito é proteger os valores e interesses húngaros.

Enfim, foi uma leitura um pouco mais demorada do que eu previa e um pouco inferior ao primeiro. Mas nada disso tira a qualidade da escrita das autoras nem a importância dos assuntos políticos e sociais que são discutidos. Eu só queria que a Arqueiro (ou outra editora) voltasse a publicar os livros delas, pois são bem diferenciados do que encontramos no gênero.

Até a próxima e boa leitura!

4 comentários

  1. Oiii,

    Não é muito meu estilo de história, mas eu comprei este livro porque ele tava baratinho na época kkkkkk É chato quando a gente não se encanta tanto com a sequencia né? Mas é péssimo quando a editora para de publicar o negocio na metade. Eu passei por isso com a Novo Conceito e a trilogia de Ladrão de Almas, da uma raiva quando eles fazem isto. Eu espero que eles voltem a publicar para que você saiba como as coisas vão seguir.

    Beijinhos...
    http://www.equipenerd.com.br/

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  2. Oi Carol, tudo bem?

    Eu acho a capa desse livro muito bonita, parece muito real, né?
    Confesso que não conhecia e não sabia que a história que era a sequência de outro livro que acho a capa muito bonita.

    Sei bem poucos sobre os conflitos na Hungria, mas me interessei bastante pela obra por conta dos conflitos apresentados. Pena que você não curtiu tanto a continuação!

    Adorei a resenha, beijos!
    http://www.marcasliterarias.blogspot.com/

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  3. Eu desconheço tudo sobre a Hungria e só sei a capital por causa do livro do Chico Buarque. Não é um gênero que eu leia com frequência, mas fiquei curiosa!!
    Valeu pela dica

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  4. Oi Carolina, como está?
    Meu pai amado, que proposta é essa?! Caramba, fiquei apavorada quando terminei a sinopse e se possível, mais ainda quando eu li a resenha. Pensa na encrenca fenomenal onde a Nina se meteu dessa vez. Imagina o cortado que ela passou.
    Um beijo de fogo e gelo da Lady Trotsky...
    http://www.osvampirosportenhos.com.br

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