Resenha: Limonov

Título: Limonov
Autor(a): Emmanuel Carrère
Tradutor(a): André Telles
Editora: Alfaguara
Páginas: 377
Ano: 2017
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Fenômeno de vendas na França e vencedor de prêmios importantes, Limonov, conta na forma de um romance eletrizante, uma história real: a vida de uma figura polêmica cuja trajetória - de poeta russo a revolucionário, de celebridade a presidiário - acompanha a própria história da Europa no século XX. De forma inovadora, Emmanuel Carrère parte de fatos reais - a vida de Eduard Limonov, delinquente, escritor, mendigo, mordomo, político radical russo - para construir uma história de não ficção com as bases clássicas do romance, em que acompanhamos a vida e as peripécias de um personagem marcante, passando por uma série de quedas e apogeus. Para colher informações realistas sobre o personagem, o escritor teve encontros diários durante duas semanas com Limonov.

Não demorou muito para surgirem seções do Partido Nacional-Bolchevique em Krasnoiarsk, Ufa e Nijni-Novojorod. Limonov às vezes aparecia, acompanhado por dois ou três de seus rapazes. A turma toda ia recebê-los na estação. Dormiam uns nas casas dos outros, passavam noites inteiras falando e, principalmente, escutando-o. Ele se exprimia de maneira simples e metafórica, com a autoridade de quem sabe que não será interrompido e uma predileção pelas palavras "magnífico" e "monstruoso". Tudo era ou magnífico ou monstruoso, ele não conhecia nenhum meio-termo, e Zakhar, na primeira vez que o viu, pensou: "É uma criatura magnífica, capaz de atos monstruosos"."

Limonov, de Carrère, é uma verdadeira aula de história as avessas, onde ouvimos sobre personagens que normalmente temos pouco conhecimento. Um deles é o líder político Brejnev e o escritor Brodsky - esse um desamor de Limonov. Tudo isso baseado na opinião de um personagem tão controverso.
Em 1943, em meio a Segunda Guerra Mundial, nasce Eduard Savenko (Limonov), na Ucrânia, filho de um militar soviético e uma dona de casa. Passou a sua infância em Kharkov e jovem, se interessou pela literatura e principalmente pela fama que esta poderia lhe proporcionar. Foi um pouco de tudo na vida: operário russo, mendigo em Nova York, mordomo de bilionário, escritor de sucesso, vendedor de calça boca-de-sino, líder político de um partido de tendência fascistas. Tudo isso relatado nesse grande livro.
O jornal francês Le Monde Internacional o descreveu como um filho do século XX, um russo que nasce no caos e que, depois, irá procurá-lo ao longo de toda a sua vida.
Carrère o conheceu nos anos 80, em Paris. Alguns anos depois encontrou Eduard novamente, agora em Moscou e, intrigado com suas contradições, resolveu entrevistá-lo. Foram duas semanas de conversa, quatro anos de pesquisa para, finalmente, em 2011, ele publicar o livro.
A narração vai desde o underground russo até os momentos em que esteve preso. O autor teve que nesse meio tempo entender a contextualização do ambiente e os hábitos do povo russo, tão diferentes do mundo ocidental. Nesse caminho, foi-se deparando com acontecimentos importantes da história da Rússia: fim da União Soviética, as transições de poder no Kremlin, implementação da Glasnot e da Perestroika nos campos políticos e econômicos.
A história russa precisa estar contextualizada para entendermos a história desse personagem tão atípico e controverso, muitas vezes indigesto.
O próprio autor afirma: "Ele não é um personagem de ficção.". No livro, porém, não deixa de sê-lo, pois a não ficção clássica seria definitivamente mais crua - e cruel. Sérgio Rodrigues, crítico literário, em um artigo para a revista Veja, defini: "Se o livro fosse mais uma história inventada por um escritor, as ações do personagem seriam completamente inverossímeis, beirando o surreal; o fato delas terem realmente acontecido é o que instiga e convida o leitor a conhecê-las.".
É uma viagem totalmente inusitada. E sermos inseridos em todos os fatos e acontecimentos do mundo, especialmente na Rússia nessa época, é fascinante.
A minha única conclusão é: Limonov foi um personagem, acima de tudo, polêmico. Um anti-herói que causa em nós diversos sentimentos, e não é possível não se posicionar quando acabamos essa história, seja para discordar, rejeitar, aprovar. Não importa, fica pairando lá no fundo da garganta um desejo latente de se posicionar, de discutir, de entender.
Com uma vida tão envolvida em todos os acontecimentos que o mundo passava, e principalmente a Rússia, Limonov é um ícone da contracultura. Dirigente de um partido dúbio que dialoga o tempo todo com o fascismo - em 1993, Limonov funda o Partido Nacional-Bolchevique e lidera um movimento que aproxima ideologias opostas como o comunismo e o fascismo. Limonov detinha certo gosto pela violência. Encontrou na guerra dos Bálcãs a sua oportunidade de combater ao lado dos sérvios.
Então, no que define o livro de Carrère? Ficção sobre um personagem real? Biografia de um personagem quase fictício? Não sei responder, mas posso dizer que é um livro fascinante, justamente por ser tão controverso. Vale demais a leitura, senão pelo Limonov, então por todo caminho histórico que percorremos.


Glasnot: transparência política;
Perestroika: reconstrução econômica


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7 comentários

  1. Ola
    Não conhecia esse título, mas achei a premissa bem interessante e teria interesse em fazer a leitura. Deve mesmo ser um livro fascinante e profundo por conta da história, pelo menos de acordo com suas impressões repassadas e de todo o contexto desenvolvido.
    Beijos, Fe
    https://modoliterario.blogspot.com/

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  2. Oi Claudia!!

    Não conhecia esse livro e achei bem bacana a proposta de misturar ficção com não ficção e o pano de fundo da história também parece ser muito incrivel, seu texto me deixou com vontade de ler, já até coloquei na lista de desejados! Adorei o post!

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  3. Olá, Cláudia!
    Eu já conhecia esse livro por meio de outros blogs e tenho vontade de ler "Limonov", pois me parece ser uma leitura incrível e reflexiva, sem contar que mistura elementos de ficção com de não ficção. Adorei a resenha, ficou ótima!
    Abraços!!

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  4. Eu não conhecia o livro e fiquei bem curiosa por se tratar de dar protagonismo para personalidades que desconhecemos ou conhecemos pouquíssimo. Achei muito interessante.
    Beijos

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  5. Oi Cláudia!
    Não conhecia esse livro, mas o que me chamou a atenção é sobre os fatos citados e esse sentimento de se sentir compelido a descobrir se é real ou ficção a curiosidade me corrói kkk. O contexto histórico deve ser absolutamente maravilhosos, já coloquei na minha lista de leitura, obrigado, parabéns pela resenha, bjs!

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  6. Olá, tudo bem? Interessante essa questão sobre não conseguirmos classificá-lo em uma categoria. A se pensar, se for não ficção talvez eu não olhasse para essa obra nem duas vezes, mas podendo ter um pé de ficção, me animo mais em conhecer. Não tinha ideia da existência do título, mas pelo que disse, sou instigada por histórias controversas. Dica anotada!
    Beijos

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  7. Oi Cláudia, tudo bem?
    Primeiramente, bem vinda ao mundo das blogueiras literárias, kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Imagino que tu é irmã ou prima da Carol ou é mãe?
    Segundo, que livro interessante e porque não dizer, meio louco, tal e qual a figura retratada. O cara foi de tudo um pouco na vida e fez cada loucura digna de um astro de rock.
    Um beijo de fogo e gelo da Lady Trotsky...
    http://wwww.osvampirosportenhos.com.br

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