Resenha: O Diário de Myriam

Título: O Diário de Myriam
Autor(a): Myriam Rawick; Philippe Lobjois
Tradutor(a): Maria Clara Carneiro
Editora: DarkSide
Páginas: 305
Ano: 2018
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: O Diário de Myriam é um registro comovente e verdadeiro sobre a Guerra Civil Síria. Escrito em colaboração com o jornalista francês Philippe Lobjois, que trabalhou ao lado de Myriam para enriquecer as memórias que ela coletou em seu diário, o livro descortina o cotidiano de uma comunidade de minoria cristã que sofre com o conflito através dos olhos de uma menina.
O livro apresenta a perspectiva de uma menina que teve sua infância roubada ao crescer rodeada pelo sofrimento provocado pela Guerra da Síria, iniciada em 2011. Myriam começou a registrar seu cotidiano após sugestão da mãe, que propôs que ela contasse tudo aquilo que viveu para, um dia, poder se lembrar de tudo o que aconteceu.


Tenho treze anos. Cresci rápido, rápido demais.
Sei reconhecer as armas, sei reconhecer as bombas. Sei quando é preciso se esconder e como se deve esconder.
Mas, principalmente, sei o que é a morte. A perda de pessoas que se ama, e o medo de morrer.
Eu me vi encurralada em um conflito sem nome, sem palavra para as crianças. Não o entendi.
Falava-se de guerra civil, falava-se de bombardeios russos, de coalizão internacional.
Para mim, era só medo, tristeza, angústia. E as lembranças de uma vida de antes que não recuperarei nunca mais."


Sempre gostei de ler diários e relatos de guerra, então quando junta esses dois gêneros, eu já fico interessada. Soma isso ao fato de ser narrado por uma criança e O Diário de Myriam se torna de cara um livro que vou gostar.
Myriam Rawick, em 2011, com treze anos, se viu no meio de uma guerra civil no seu país natal, a Síria.
Desde os anos 2000, quando Bashar al-Assad assumiu a presidência após a morte de seu pai,  que o país sofria por alto desemprego, corrupção e falta de liberdade política. Em março de 2011, a cidade de Deraa, localizada no sul do país, influenciada por levantes nos países vizinhos contra os governos opressores - movimento que ficou conhecido como Primavera Árabe - iniciou manifestações pró-democracia.
No momento em que o governo começou ações violentas contra o movimento, protestos pedindo a renúncia do presidente tomaram as ruas. As repressões aumentaram e os partidários da oposição se armaram - primeiro para se defenderem e depois para livrarem as suas áreas das forças armadas do governo. Com os conflitos, o país entrou numa guerra civil.
Diante dessa situação, centenas de grupos rebeldes surgiram. Com o caos piorando, organizações jihadistas extremistas, como o Estado Islâmico (EI) e a Al-Qaeda, se envolveram. Além desses grupos, os curdos também entraram no conflito, mesmo não lutando contra as forças de Assad.
Segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, um grupo de monitoramento localizado no Reino Unido, até dezembro de 2020, mais de 500 mil pessoas foram mortas ou estão desaparecidas - dessas 500 mil, 387.118 foram mortas, sendo 116.911 civis; 205.300 estavam desaparecidas, incluindo 88 mil civis. Já o Centro de Documentação de Violações registrou 226.374 mortes na Síria, incluindo 135.634 civis, até dezembro de 2020 e segundo a Unicef, 12 mil crianças foram mortas ou feridas.


É assim a guerra na Síria. Para além de saber quem são os mocinhos e quem são os bandidos, o que resta é só isso. Mortos que se acumulam, crianças. Asfixiadas ou queimadas vivas, nada lhes foi poupado."

 

Enquanto a Turquia, as potências ocidentais e vários países do Golfo apoiaram a oposição por diversos anos, a Rússia e o Irã apoiaram o governo sírio. Já a Arábia Saudita, com o objetivo de conter a influência iraniana, armou e financiou os rebeldes no início da guerra.
Hoje o governo de Assad recuperou o controle das maiores cidades do país, mas ainda existe uma boa parte sob controle dos rebeldes, jihadistas e das Forças Democráticas da Síria, sob liderança dos curdos.
Sobre os refugiados, somente a Turquia registra 3.655.067. Entre o Líbano, a Jordânia, o Iraque, o Egito e o Norte da África, há quase 2 milhões de refugiados sírios. Além disso, existem pelo menos dez países europeus com pedidos de asilo, entre eles, a Alemanha, a Suécia, a Grécia, a Hungria, a Áustria, a Holanda, a Bélgica, a França, a Bulgária e a Dinamarca. No Brasil, segundo dados da Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), existem cerca de 4 mil sírios.
Infelizmente, a guerra ainda não tem previsão de acabar tão cedo.
Agora que dei esse resumo sobre o conflito, vou falar finalmente sobre o livro. Mesmo assim, recomendo que vocês vão atrás de textos que expliquem melhor. No final da resenha, vou deixar dois artigos na qual utilizei como base.


Irmão Georges diz que hoje é o Dia Internacional dos Direitos das Crianças no mundo inteiro, mas que esqueceram de colocar Alepo na lista."

 

Em 2016, o repórter francês Philippe Lobjois viajou para a capital da Síria, Alepo, quando ela ainda estava em pleno caos. A cidade estava inteiramente em ruínas. A única região que tinha resistido era um triângulo que reagrupava o que chamavam de "bairros do oeste" e era leal ao regime. Não havia água nem energia elétrica. Mesmo assim, havia uma população de pé, que resistia ao governo opressor. Foi quando conheceu uma menina cristã de origem armênia. Myriam tinha somente 13 anos e vinha de uma família sobrevivente que fugiu do genocídio perpetrado pelos turcos em 1915. Alocados há um século no bairro de Jabal Sayid, na parte norte de Alepo, foram expulsos em 2013 pelos jihadistas. Foi quando ele descobriu que ela vinha escrevendo um diário, a pedido da sua mãe, para narrar o que vivenciava.
É sempre muito triste termos que ver pessoas, mas principalmente, crianças narrando guerras para o resto da sociedade abrir os olhos e interferir/ajudar aquela população. Ao mesmo tempo, faz nós leitores conhecermos melhor a cultura deles e O Diário de Myriam consegue fazer isso muito bem. Além de explicar um pouco a guerra, ela traz diversas receitas locais, passa por vários locais da sua cidade e conta um pouco da história do seu país.
Enfim, é um livro que recomendo demais, principalmente para a gente se inteirar sobre a realidade da Síria, além de conhecer mais da cultura deles. Como o diário é escrito por uma criança, ela não se aprofunda totalmente nos porquês da guerra, mas a edição traz alguns textos complementares que ajudam. Mesmo assim, volto a repetir, procurem especialistas no assunto, vão atrás, porque é muito importante estarmos por dentro do que vem ocorrendo em outros países, especialmente aqueles que a grande mídia não dá atenção: os países do Oriente Médio, o continente africano, entre outros. Só tomem cuidado para não estereotipá-los!

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Até a próxima e boa leitura!

2 comentários

  1. Oie, tudo bem? Assim como você também gosto muito do tema. Principalmente História. Acredito que nos enriquece muito aprender como outros povos viveram, como a humanidade evoluiu e como influenciou em como a sociedade vive hoje. Algo que tenho muita curiosidade em estudar e me aprofundar é sobre a Palestina. Na verdade vários países do Oriente Médio. As Guerras também são um tempo que despertam curiosidade. Gostei da sua indicação. Um abraço, Érika =^.^=

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  2. Oi Carol!
    O Diário de Miriam ainda não li, mas li alguns livros sobre a guerra que retratam bem os horrores,a miséria e a humilhação que passam principalmente as crianças que são as mais afetadas, me sinto inútil e indignada com certos abusos, mas sim concordo com você temos que ler e ficar a par de tudo que acontece e os efeitos que tem sobre esses povos. Como estou com o livro aqui vou colocar em prioridade, assim que der vou ler, obrigado pela dica, parabens pela resenha, bjs!

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