Resenha: O Livro do Chá - Um Rolê Pelo Mundo

Título: O Livro do Chá
Autor(a): Kakuzo Okakura | Tradutor(a): Leiko Gotoda
Editora: Estação Liberdade | Páginas: 139
Ano: 2017 | País: Japão
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Buscando explicar o "orientalismo" peculiar do Oriente, Okakura valeu-se do chá para simbolizá-lo. No Extremo Oriente o chá assume a mesma importância que o sal para nós: a essência que empresta sentido e sabor àquilo que, sem ela, seria monótono e insípido. De início, Okakura fala de sua origem, de sua história primitiva, de sua difusão e, em seguida, volta os olhos para seu simbolismo no Japão: a cerimônia do chá, essa cerimônia tipicamente japonesa, que não se observa em nenhum outro lugar no Oriente. Trata-se de uma cerimônia quase religiosa, realizada segundo ritos estabelecidos há séculos, onde um grupo de pessoas se reúne e age com atitudes tão fantasticamente rígidas como jamais adorador algum devotou a um deus severo. Em O Livro do Chá, Okakura professa a sua fé na arte e no belo, empenhando-se na demonstração de quanto a cultura e a tradição de sua terra devem à tradição do chá. E o faz entremeando sensibilidade com raciocínio, argumento com poesia, erudição com inspiração, condensando no curto espaço destas páginas tudo quanto assimilou em suas buscas, pesquisas e experiências, que diz respeito à arte tradicional do Oriente.

Aqueles incapazes de sentir em si mesmos a pequenez das coisas grandiosas tendem a ignorar nos outros a grandiosidade das pequenas coisas. O ocidental comum, em sua branda complacência, verá na cerimônia do chá nada mais que outros dois mil e um exemplos de esquisitices que para ele se constituem em singularidades e infantilidades do Oriente. O ocidental comum se habituou a considerar o Japão como um país bárbaro enquanto este cultivou as suaves artes da paz, mas o classifica como civilizado desde que começou a perpetuar carnificina em massa nos campos de batalha da Manchúria."


Em Março de 2020, um pouco antes da pandemia do Covid-19 fazer a gente entrar em uma quarentena que durou dois anos - mais especificamente, 14 dias antes - eu comecei um curso de extensão na faculdade sobre cinema japonês. A aula era a cada 15 dias, com o intuito de assistirmos um filme japonês para discutirmos a cultura e questões sociais do país asiático. Gostei tanto das aulas que estou fazendo até hoje e decidi fazer em um semestre uma matéria sobre arte japonesa com a mesma professora.
Na aula de arte japonesa, a professora pediu para lermos O Livro do Chá, de Kakuzo Okakura, um autor importantíssimo para o Japão por quase um século, uma vez que ele foi a principal pessoa a introduzir o modo de viver e os pensamentos asiáticos para os ocidentais - já que escrevia em inglês. Este livro foi escrito em 1906, uma época em que os japoneses procuravam ocidentalizar os aspectos do dia a dia japonês. Acontecia também a derrota da Rússia para o Japão a partir de uma força naval moderna.
A cerimônia do chá (ou chanoyu) já tinha sido exposta 32 anos antes do livro ser publicado, mas de uma maneira bem mais arriscada, já que o governo Meiji decidiu classificá-la como "arte performática". A chanoyu só escapou desse rótulo por causa de Gengesai, que conseguiu convence-lo do contrário. Desde então a cerimônia é reconhecida como um caminho de vida.
A maior questão com Okakura ser o responsável por introduzir a cerimônia do chá no Ocidente é que, apesar de ter estudado a chanoyu em sua juventude, havia poucas evidências da prática cotidiana do chado (o caminho do chá) em sua casa no Japão.

Aqueles incapazes de sentir em si mesmos a pequenez das coisas grandiosas tendem a ignorar nos outros a grandiosidade das pequenas coisas. O ocidental comum, em sua branda complacência, verá na cerimônia do chá nada mais que outro dos mil e um exemplos de esquisitices que para ele se constituem em singularidades e infantilidades do Oriente. O ocidental comum se habituou a considerar o Japão como um país bárbaro enquanto este cultivou as suaves artes da paz, mas o classifica como civilizado desde que começou a perpetuar carnificina em massa nos campos de batalha de Manchúria. Muito se comentou nos últimos tempos sobre o Código do Samurai - a arte da morte que leva nossos soldados a exultarem no autossacrifício -; mas quase nenhuma atenção foi dada ao "chaísmo", que tão bem representa a nossa arte da vida."


Aqui no blog já tem um texto sobre a cerimônia do chá, muito bem detalhado, com tabela e tudo. Vou deixar o link aqui para quem quiser ler. Recomendo. Por isso, ao fazer a resenha, preferi focar na dualidade que foi Okakura escrever esse livro.
Para quem não conhece a cerimônia ou não sabe da importância do chá para os japoneses, a leitura é muito válida, tanto que o livro virou um clássico. No entanto, existem alguns questionamentos por parte dos japoneses sobre o autor.
Mais um país visitado a partir do nosso desafio. Mais um autor lido. Próxima parada: Polônia!

Para quem quiser ler o nosso outro texto sobre o livro e a cerimônia, é só clicar aqui.

Até a próxima e boa leitura!

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