Resenha: Persépolis - Um Rolê Pelo Mundo

Título: Persépolis
Autor(a): Marjane Satrapi
Tradutor(a): Paulo Werneck
Editora: Quadrinhos na Cia.
Páginas: 352 | Ano: 2016 | País: Irã
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: Marjane Satrapi tinha apenas dez anos quando se viu obrigada a usar o véu islâmico, numa sala de aula só de meninas. Nascida numa família moderna e politizada, em 1979 ela assistiu ao início da revolução que lançou o Irã nas trevas do regime xiita - apenas mais um capítulo nos muitos séculos de opressão do povo persa. Vinte e cinco anos depois, com os olhos da menina que foi e a consciência política à flor da pele da adulta em que se transformou, Marjane emocionou leitores de todo o mundo com essa autobiografia em quadrinhos, que só na França vendeu mais de 400 mil exemplares.
Em Persépolis, o pop encontra o épico, o oriente toca o ocidente, o humor se infiltra no drama - e o Irã parece muito mais próximo do que poderíamos suspeitar.


Quando ainda estava na escola, não lembro muito bem qual ano, eu li o volume um de Persépolis. Na época, acredito que ainda não tinha a edição completa, com todos os volumes. Tive que ler porque naquele ano havia chance de cair no vestibular. E caiu! (Aliás, acertei a questão e lembro que fiquei muito feliz por isso). Agora, já alguns anos depois, decidi finalmente ler o quadrinho por completo.
Marjane Satrapi, a autora da HQ, quando tinha dez anos de idade, viu seu país, o Irã, passar por uma revolução (1979) que mudou toda a história e o colocou nas trevas do regime xiita.
Resumindo um pouco por cima, porque, apesar de ter durado só um ano, a revolução mudou todo o futuro do país até hoje e existem muitos detalhes, guerras, protestos, influências e países se metendo aonde não eram chamados. Para quem quiser entender melhor como ocorreu e o porquê, além da própria indicação do quadrinho, vou deixar no final da resenha alguns artigos de sugestão de leitura.
O Irã, até 1979, era uma monarquia autocrática comandada pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi. No momento em que ocorre a Revolução Iraniana, ele é tirado do poder e o país torna-se uma república islâmica teocrática, comandada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.




Com a queda do antigo governo, várias mudanças ocorreram com as leis, com os hábitos da população iraniana, entre outras questões. As mulheres, por exemplo, se tornaram obrigadas a utilizarem os véus em 1980, um ano após a revolução. Apesar de várias sempre terem usado os véus, elas usavam porque queriam e não porque eram obrigadas. Isso revoltou muitas delas, mas com uma polícia agressiva, elas não tinham muito o que fazer. Foi o que ocorreu com a autora desse quadrinho, Persépolis.
Marjane Satrapi, nessa sua autobiografia, relata o início da Revolução, quando ela ainda tinha 10 anos de idade e ainda não entendia todas as consequências que teriam para ela e seus pais, uma família moderna e politizada.
Escrito 25 anos depois, já com uma consciência política que ela foi conquistando com o passar do tempo, a HQ nos apresenta a situação na qual o país entra, como a população recebe as mudanças, a violência que se instaura, as diferenças entre Oriente e Ocidente e diversas outras questões.
É muito doido porque a gente consegue ver as diferenças culturais e percebemos que boa parte da população também era contra as leias mais rígidas, a opressão da polícia e do governo. Inclusive, a própria família da Marjane, que era super politizada e com consciência social, era contra o regime que se instaurou no Irã.
Além de todas essas questões já citadas, Marjane ainda nos mostra que o novo governo proibia qualquer acesso a cultura ocidental. Por exemplo, ela não podia ter pôsteres das bandas que gostava ou usar tênis de determinadas marcas, se não ela podia ser presa.
Enquanto eu lia, mas principalmente enquanto eu escrevo essa resenha, diversas vezes me veio na mente memórias de uma aula que tive na faculdade, sobre filosofia árabe-islâmica. O professor, que é nascido no Líbano, mas cresceu em Curitiba, sempre que podia falava como a mídia ocidental, incluindo a brasileira, tem muita culpa sobre a visão que foi criada sobre os países árabes e as populações muçulmanas/islâmicas, sendo que muitos países tem culpa pelo o que ocorreu no Irã (e também em outros países árabes, africanos e etc). Ele sempre estava criticando e isso nunca mais saiu da minha cabeça e se a gente analisa bem, isso é muito real.
Por exemplo, no próprio quadrinho os pais dela citam a influência dos EUA na atual situação dos seus países. Ou como os "aliados" se declaram "libertadores", quando só estão lá por causa do petróleo.




Inclusive, para quem tem curiosidade, ele tem vários livros publicados e traduziu diversos textos árabes para o português. As aulas que tive com ele foram das melhores. Jamil Ibrahim Iskandar fundou em 2009 a disciplina de Filosofia Medieval Árabe na Unifesp (minha faculdade <3) e foi o primeiro tradutor de textos árabes do século 10 para o português do Brasil. Deem uma pesquisada nas obras dele, porque vale muito a pena e ele explica de uma maneira muito fácil até para quem não tem muito conhecimento sobre o campo.
Além do próprio  Persépolis, recomendo o livro Lendo Lolita no Teerã, que também é uma autobiografia e traz alguns assuntos parecidos com o da HQ e outros pontos de vista (e acho que já tem resenha no blog). E sugiro que, quando forem pesquisar, prestem atenção nas fontes que vocês utilizam, porque tem muitas que são tendenciosas!

Até a próxima e boa leitura!

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