Resenha: Olga

Título: Olga
Autor(a): Fernando Morais
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 259
Ano: 1998
Onde Comprar: Amazon
Sinopse: A obra fala sobre a vida de Olga Benário alemã, judia e comunista, que se envolveu com Luís Carlos Prestes. Ela veio ao Brasil para lutar com ele pelos ideais comunistas. Acabou sendo presa e deportada grávida para a Alemanha pelo governo brasileiro, tendo como presidente Getúlio Vargas. Morreu numa câmera de gás de um campo de concentração em 1942.




Na hora do almoço, uma edição extra do diário Berliner Zeitung am Mittag já dava detalhes, sob escandalosa manchete, do que chamava de "ousada cena de faroeste" ocorrida de manhã em Moabit. O jornal anunciava em primeira mão o nome de linda jovem que comandara o "assalto comunista": Olga Benario."

Para quem não sabe, biografias não é o meu gênero favorito. Longe disso. Li poucas e quase sempre acho a leitura delas mais lenta (não que isso seja um problema) e para eu realmente gostar, precisa ser de alguém que eu aprecio muito ou sobre uma época que me interessa demais - como foi com Só Garotos, da Patti Smith.
Dito isso, não é necessário explicar a importância da biografia de hoje nem da pessoa na qual ela está falando. Ainda mais nos dias atuais.
Acho que todo mundo conhece a vida de Olga Benário: mulher judia comunista, que foi presa e entregue gravida à Hitler pelo governo Vargas. Mas resumir ela só por isso é muito pouco e por esse motivo que é indispensável todos lermos a sua biografia.
Nascida em Munique, na Alemanha, em 1908, Olga se juntou ao Partido Comunista alemão em 1923, quando tinha apenas 15 anos. Rapidamente ela se tornou uma das lideranças do partido e das principais referências.
No Partido Comunista ela conhece Otto Braun, que se tornaria seu namorado. Juntos, eles mudam-se para Berlim e num conflito com milícias de extrema-direita, ambos são presos. No entanto, só Olga é solta e para libertá-lo, ela junto com outros companheiros da causa, planejam um assalto à prisão. Ao conseguir libertá-lo, ambos fugiram para a União Soviética, onde Olga recebe treinamento político e militar.
Já separada de Otto, em 1934 Olga é enviada para o Brasil - junto com Luís Carlos Prestes - para apoiar o Partido Comunista Brasileiro. Nesse meio, acontece a Intentona Comunista, liderada por Prestes e os dois começam a viver clandestinamente.. Em 1936, eles acabam presos pelo governo Vargas.
É ai que as coisas complicam de vez, já que Olga estava grávida e no final do ano, ela é deportada para a Alemanha nazista. Em 18 de outubro de 1936, ela é presa pela Gestapo e enviada para a prisão de mulheres da polícia secreta, onde ela acaba tendo a sua filha, Anita Leocádia Prestes. Olga consegue ficar com a filha até o fim da amamentação e depois ela a entrega à avó, D. Leocádia. Em 23 de abril de 1942, agora com 34 anos, Olga é executada na câmara de gás do campo de extermínio de Bernbug.

Quanto mais Heitor Lima remexia as montanhas de depoimentos e denúncias do processo da revolta, tanto mais se materializava a certeza de que a decisão da expulsão se resumia a uma vingança pessoal de Getúlio Vargas e Filinto Müller. Não contra ela, que nenhum dos dois conhecia, mas contra o marido e pai de seu filho, Luís Carlos Prestes. Não havia, em todo o processo, uma só acusação, uma única imputação de qualquer delito que ela pudesse ter praticado no Brasil. Nem sequer sua extradição havia sido pedida pelo governo de Adolf Hitler. Getúlio e Filinto tomaram espontaneamente a decisão de enviar ao Reich nazista uma judia, comunista e grávida de quatro meses."

Eita leitura difícil. Nunca é fácil quando lemos algo sobre a Segunda Guerra Mundial ou a Ditadura Militar Brasileira. Nesse caso, Olga sofreu nos dois. Ela foi presa e torturada nas mãos da ditadura e novamente presa e torturada nas mãos do nazismo. Ela sofreu e não foi pouco.
Enquanto estava presa na Alemanha, Olga descobriu que estava grávida. Dentro do possível, com a ajuda das outras presas, ela conseguiu ter a sua filha saudável e ainda conseguiu manter ela ate terminar de amamentar. Nesse tempo, a maior ajuda que ela teve foi da sogra, D. Leocádia, que fez tudo o que podia para tentar tirar as duas de lá. O que essa senhora fez por uma pessoa que ela nem conhecia, pois ambas nunca tinham sido apresentadas, é de uma grandeza inimaginável. Se Anita sobreviveu e até hoje está viva, é graças a D. Leocádia (e merece muito o segundo nome que leva).
Eu terminei de ler com uma impressão ruim de Prestes. Ele também sofreu nas mãos da ditadura, mas na primeira oportunidade que teve, ele já estava apoiando Vargas. Sinceramente, eu não consigo entender como alguém consegue apoiar o principal nome que te prendeu e torturou, e que ainda matou centenas de milhares de pessoas, incluindo conhecidos seus. Não consigo.
E falando sobre ele, o único ponto que não gostei da biografia, foi que quase metade do livro é para contar as idas e vindas de Carlos Prestes, e as suas prisões. Eu entendo que para conhecermos a história completa de Olga, é necessário sabermos quem era Prestes e o que ele fez, mas, em muitas vezes parecia que eu estava lendo uma biografia dele do que dela. Não sei se gostei muito dessa opção do Fernando Morais.
Sei que tem um filme com a Camila Morgado, mas eu ainda não assisti pois não sei se estou preparada para passar por esse sofrimento novamente.

Ewert não se chamava Bergen, não era judeu, não fora preso em Copacabana, era adversário de Stalin e não tinha salvo-conduto para entrar em repartição alguma, mas nada disso tinha importância. O essencial era envenenar a população com a monstruosa conspiração judaico-comunista que vinha de fora, não importava de onde, para escravizar o Brasil."

Uma história de uma mulher que acreditava em um ideal e foi morta por pensar diferente. Em 36 as pessoas eram presas e mortas por serem comunistas e ainda hoje ouvimos discursos de representantes do Governo para mata-las (e não somente elas, que fique bem claro!). Então me pergunto: estamos em 2020 ou ainda em 1936?

Até a próxima e boa leitura! (E fiquem em casa!)

11 comentários

  1. Eu me lembro até hoje de quando, aos 12 anos, na aula de história me foi mostrado o filme que contava a história de Olga. Eu fiquei enojada com tudo aquilo, em como o ser humano poderia ser tão cruel com o outro. Até a sua resenha, não havia me tocado de que devia existir uma biografia dela e agora estou mais do que interessada em conhecê-la. Aliás, adorei a sua resenha.
    Beijos

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  2. Oi Carol, também não sou muito fã de biografias, e só leio se me chama atenção.. Olga foi uma mulher que lutou bravamente, até quando sabia que ia morrer.
    Prestes foi bem sem vergonha, mas sinceramente não esperava mais dele, naquela época ele iria fazer qualquer coisa para não morrer.
    É um livro chocante, já assisti documentário dela e filme tambem

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  3. Li este livro ano passado e gostei demais e a minha impressão de Prestes foi igual a sua. Aliás, o que tem de gente incoerente na nossa história e que mudou de time no decorrer dos fatos que é uma decepção atrás de decepção, não é mesmo? Tem o filme Olga, de 2004, é bem bacana e triste, supeorindico.

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  4. Olá, tudo bem? Eu assisti ao filme da Olga, mas não lembro de muitos detalhes. Lendo tua resenha, não ficaram dúvidas de que é uma leitura bem pesada, pois são temas pesados. Adorei a resenha e fiquei curiosa para ler!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  5. Olá, tudo bem ?
    Eu tive que assistir este filme quando era mais nova, na faculdade se não me engano, mas não me lembro ao certo do enredo.
    Mas ando fugindo de enredos densos e pesados. Biografias eu sou 8 ou 80.
    Beijos

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  6. Eu conheço bem pouco sobre a Olga. Nunca nem assisti o filme, mas tenho vontade.
    Também não sou muito fã de biografias, mas ando me arriscando em outros gêneros.. quem sabe não me arrisco nesse com essa biografia.
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe do #SorteiodaAmizade no twitter; três livros, um ganhador

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  7. Gosto de livros com temática de Segunda Guerra e percebi que esse deve narrar muitos acontecimentos dolorosos, principalmente porque Olga passou por isso e pela Ditadura. Ainda não tive oportunidade de ler essa obra, mas fiquei realmente curiosa. Vou deixar a dica anotada.

    Beijos,
    Blog PS Amo Leitura

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  8. Olá, tudo bem? Biografia é também um tipo de leitura fora da minha zona de conforto, porém nomes importantes de épocas relevantes devem ser lidos né?! Não conhecia essa biografia, no entanto fiquei curiosa com o contexto, apesar da sua ressalva. Quem sabe futuramente?! Ótima resenha!
    Beijos

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  9. Gosto de livros que se passa na época da Segunda Guerra, mesmo suas histórias sendo melancólicas e trágicas. Esse livro deve nos trazer muitas informações, praticamente uma pequena aula sobre o que aconteceu nessa época e com Olga, mas pelo que disse, colocam mais acontecimentos com Carlos Prestes do que com ela, mesmo assim me interessei, pois gosto demais de ler biografias.

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  10. Oi, Carolina.
    A história da Olga é super polêmica. Alguns a tratam como heroína, outros como fora da lei. Eu tenho as minhas próprias convicções e não acho que ela o problema dela tenha sido apenas uma questão de ter uma opinião diferente, já que o comunismo, assim como a ditadura, é um regime que matou e ainda mata milhões de pessoas no mundo! Mas enfim... Cada um, cada um! Rs...
    De qualquer forma, vou anotar a dica porque acho importante conhecer uma visão diferente!
    beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  11. Oi Carol!

    Eu fiquei impressionada com essa resenha e imagino que a leitura foi realmente muito difícil, eu conheço um pouco da história da Olga e confesso que ela foi uma dessas mulheres "fora da caixinha" que eu admiro muito. Adorei a sugestão ♥

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